Aquela tinha tudo pra ser uma
sexta feira como outra qualquer, a não ser pelo sonho que a havia despertado,
agitada, ofegante e molhada – e não era só de suor... Uma inquietação tomou
conta dela, e aquela agitação crescia, até que ela se levantou da cama, tomou
um banho e começou a se preparar pra ir trabalhar. O dia seria cheio –
experimentos, alunos, artigos científicos, mas mesmo sem entender bem o motivo
que a levava a abrir uma gavetinha especial, ela pegou a maletinha que guardava
com expectativa praquela ocasião mais que especial, e a colocou dentro da
bolsa.
O dia transcorreu dentro da
normalidade, mas a inquietação não a deixou em paz. Fazia muito tempo que não
falava com seu “eleito”, e na verdade, achava que tudo o que ambos haviam
alimentado durante todos aqueles meses, nunca sairia do papel. Até que num dado
momento da tarde ela foi presenteada com as suas rosas virtuais, que deixavam
seu dia sempre mais alegre. Mas aquele dia era diferente. Era O DIA. Ele, que
sempre havia prometido surpreendê-la, perguntou, com sua alegria natural de
menino, se ela tinha programado algo pra noite, porque finalmente, essa noite
seria a noite deles...
Todas as coisas que haviam dito,
todas as conversas densas, cheias de sensações, passaram pela cabeça dela numa
fração de segundos. “Não, to livre hoje”, foi tudo o que conseguiu responder.
Combinaram meio que às pressas o horário que se encontrariam e o local, e
incrivelmente, toda a ansiedade que dominara seu dia, desaparecera. Era a Domme que começava a aflorar e fria,
metódica e racional, analisava todas as coisas que precisavam ser feitas pra
que a noite fosse inesquecível pra ambos.
“Merda! Não tenho nada aqui pra
decorar o nosso cantinho, mas pelo menos trouxe meus brinquedos.” E, naquele
momento, se deu conta de que ele estivera presente a noite inteira no sonho que
a acordou pela manhã, e acreditou, mais uma vez, que esse menino estava mesmo
predestinado a fazer com que as coisas acontecessem – desse certo ou errado – e
que a afinidade deles era mesmo perturbadora...
Antes de chegar ao local
combinado, comprou umas coisas, meio que de improviso, e correu pra chegar meia
hora antes, pra dar tempo de preparar tudo. Não tinha sido exatamente como ela
havia imaginado, mas afinal, que graça tem a vida se não tiver adrenalina e
improviso?
Quando ele finalmente bateu à
porta, ao contrário de tudo o que havia planejado, ela não conseguiu deixar de
sorrir pra ele, e lhe dar um longo e aconchegante abraço. Parecia que tudo
havia conspirado pra que o encontro deles fosse natural demais, sem as
obrigatoriedades de contratos e regras. O abraço e o perfume dele rapidamente
acenderam todos os alertas, e ela rapidamente assumiu o papel que ele esperara
por tanto tempo. Abriu lentamente cada botão da camisa dele, olhando-o nos olhos,
o mais profundo que pode, tentando ler os seus sinais. Quando ela jogou a
camisa no chão, o corpo dele já mostrava, na tensão de cada músculo, nas
pupilas dilatadas, na respiração ofegante, e, óbvio, dentro das calças, que ele
estava mais do que pronto pra se entregar a ela.
Eles, que já haviam repassado
roteiros e fantasias mais de um milhão de vezes, se deixaram levar por toda
aquela atmosfera... Música, vinho e velas (que ela havia conseguido na última
hora), deram os tons da noite. “D., vc sabe o que eu quero de você”, ela disse,
com a voz firme e doce, sem deixar por um minuto sequer, de olhar fundo nos
olhos dele. “Sim, senhora”, ele respondeu, com aquela voz grave, meio rouca,
que a deixara enlouquecida por mais de uma vez. E se ajoelhou, de calça, sem
camisa, baixou a cabeça em reverência à sua dona, e estendeu, timidamente, as
mãos para serem amarradas por ela.
Ela tirou da maletinha uma corda
pequena, vermelha, já preparada num nó de forca. Colocou-se bem à frente dele,
passou a mão pela nuca, e segurou o cabelo, já molhado de suor, encostando a
cabeça dele no seu umbigo de forma que ele, ajoelhado, pudesse sentir seu
perfume doce, e seu cheiro de mulher. Ele, obediente, com as mãos esticadas,
não disse uma palavra. Ela colocou as mãos dele dentro do círculo que o nó
formava, e puxou, prendendo com força, impedindo-o de tocá-la de qualquer
forma.
Naquele momento, parecia que o
tempo havia parado pra presentear, submisso e dominadora, com a beleza daquele
quadro. Ele, excitado demais pra conter os gemidos, olhava pras próprias mãos,
meio que sem acreditar que finalmente estava acontecendo. Os olhos dela
brilhavam, ao observar o contraste da corda vermelha com a pele branca dele, e
a entrega, que ela começava a presenciar e tinha certeza de que ainda era
mínima, que muitos limites seriam rompidos naquela noite...
“De pé, D.”, ela ordenou, e foi
prontamente obedecida. “Agora, dê o seu jeito de tirar a calça”. Ele, com os
olhos baixos, mexia os pulsos, tentando afrouxar um pouco a corda, enroscava
nervosamente os dedos, enquanto ela andava ao redor dele, passando o chicote
pelo pescoço e peito, nuca e costas, e, pra aumentar ainda mais a tensão dele,
vendou-lhe os olhos. “Agora você vai contar até dez comigo. Se não conseguir
tirar essa calça, vai começar a contar as chicotadas. Um, dois, três,
quatro...” Obviamente que ele não foi feliz na primeira tarefa, e ela não
sabia, na verdade, se havia sido sem querer ou de propósito, mas não fazia
diferença, pois chegara o momento que castigar aquele submisso rebelde que
sequer sabia se despir. “Pode começar a contar”, e quando ele disse “um” ao
mesmo tempo ela ouviu o chicote estalando nas costas dele. O castigo durou até
a sexta chicotada, quando ele finalmente conseguiu, suado e ofegante, tirar a
calça.
A visão daquela samba canção
preta, que ela parecia já conhecer de longa data, contrastando com a pele já
mais vermelha que branca, nas costas e nos punhos, nublou, por um momento o
julgamento da dominadora. Ela também já estava excitada demais com tudo o que via,
sentia e tocava, cada detalhe despertava nela uma vontade de tocá-lo, de lamber
cada pedacinho das costas dele que ardia, mas ela sabia que muito ainda os
aguardava. “D., você sabe que merece ser castigado, não sabe? Você tem sido
rebelde, relapso, e, principalmente, tem ditado muitas regras até aqui.” Como
não restasse mesmo outra alternativa, ele respondeu, baixinho “Sim, senhora.
Perdão, senhora”. Mas ela estava mesmo determinada a fazer com que ele
aprendesse a ser o submisso que ela queria que ele fosse. “Eu disse pra você
durante todo esse tempo que aqui, trancado comigo, você ia aprender a ser
submisso de verdade. Ajoelha.”
Ele se ajoelhou novamente,
amarrado e vendado, e quando deu por si ela já havia passado pelo pescoço dele
o cinto, e puxava, como se fosse uma coleira. Sentiu que ela se afastava, e
ouviu um barulho de saco plástico, o que foi suficiente pra que ele começasse a
pedir, por favor, pra que ela não o sufocasse. “Cala a boca, escravo. Eu não
quero ouvir a sua voz, e se você me desobedecer, o castigo será ainda mais
dolorido!”
Como ele não parava de resmungar
e choramingar, ela pegou a mordaça e, segurando o rosto dele pelas bochechas, o
forçou a abrir a boca. Ele se debatia, tentava resistir, e falava, implorava e
choramingava, e aquele jogo entre a caça e a caçadora fazia aumentar o desejo
que os sufocava. Por fim, ela conseguiu colocar a mordaça em sua boca, e
puxando com força, prendeu bem preso atrás da cabeça. Deu dois tapas de leve no
rosto dele. “Ca-la-do”, falou, pausadamente. “Agora você vai ser conduzido até
o cantinho do castigo, e vai ficar por lá até aprender como deve tratar a sua
dona. Você tem sido indolente, folgado, imprestável e eu tive paciência demais
com as suas vontades. Agora chega.”
E o levou até um canto do quarto,
puxando pelo cinto e ele ficava ainda mais bonito se arrastando, desengonçado,
mudo e cego, amarrado e choramingando. Ela mexeu novamente no saco plástico e
pode sentir o arrepio que percorreu o corpo dele. Puxou carinhosamente os
cabelos molhados dele, se aproximou do ouvido e disse pra ele ficar calmo.
Perguntou se ele confiava nela e ele assentiu, e então pode ouvir o barulho de
alguma coisa sendo espalhada pelo chão.
Ele não conseguiu ver o que era,
mas pode sentir os joelhos sendo esfolados pelo que pareciam ser pedrinhas.
Então se lembrou de uma conversa que tiveram sobre castigos, em que ela havia
mencionado que o colocaria de joelho sobre pedrinhas de aquário. As lágrimas já
escorriam, involuntariamente, dos olhos dele, molhando a echarpe de seda que
ela usara pra vendá-lo. “Você sabe por que está de castigo, D.?” Ele balançou a
cabeça em negativa, e sentiu que ela se colocava atrás dele, e pode sentir
também as cerdas frias do chicote. “Não? Você não sabe? Vou te dizer alguns
motivos, então.”
As pedrinhas ralando o joelho
dele, o chicote roçando as costas, foram tornando crescente e quase
insuportável o desespero dele. “Bom, pra começar, você me deixou esperando por
você mais de uma vez, e isso é inadmissível pra uma Domme. Você acha isso certo, D.?” Ele fez que não com a cabeça e
ela disse, cinicamente, que já que ele havia admitido seu pecado assim, tão
facilmente, que a chicotada ia ser leve. Mal deu tempo pra ele assimilar essa
informação, tamanha aflição que as pedrinhas provocavam, e sentiu a chicotada
nas costas.
“Em segundo lugar, você tem se
comportado como um menino mal-educado. Não se despede da sua dona, simplesmente
desaparece quando estamos conversando, e isso me irrita demais. Você pretende
repetir isso, daqui pra frente?” Ele fez que não, mais uma vez, mas ela
resolveu achar que ele tinha hesitado algum tempo antes de responder. “Por
causa da sua indolência, você vai apanhar de novo, e não se esqueça de me
agradecer.”
Mais uma chicotada, lágrimas
escorrendo, pedrinhas machucando os joelhos, a perna inteira, dor, sofrimento,
e humilhação. Era realmente aquilo que ele viera buscar? Por mais que ele
negasse, o corpo não negava o desejo. Ele estava excitadíssimo, quente e
latejante, preso naquela samba canção, e sabia que precisava suportar tudo
aquilo pra alcançar a redenção só ela podia dar. O poder que ela exercia sobre
ele era soberano, ele poderia simplesmente fazer o gesto de segurança que tudo
pararia, mas não queria, ele precisava ter os seus limites rompidos por ela pra
usufruir de todo o prazer que ela podia lhe dar.
“Por fim, D., o seu pecado mais
grave: despertar esse tesão perturbador em mim. Inicialmente eu nem tocaria em
você, e abri essa concessão porque imaginar a sua pele, branca, adornada por
essas cordas vermelhas, dentro dessa samba de seda preta, me deixavam fora de
mim. E os dias foram passando, e você com todo esse seu jeito de bom moço foi
me provocando, provocando, até que eu percebi que sentiria necessidade de ser
tocada por você. Nós conhecemos os limites rígidos um do outro, e quando eu dei
por mim, tinha que escolher entre meu limite e o meu desejo. Isso foi uma falta
grave e você tem que responder por ela.
Ele, exausto e dolorido, meneou a
cabeça no que pareceu ser um sim. Ela pediu que ele se sentasse, o que lhe deu
certo alívio, pois não havia sinal do chicote nas costas, mas ao mesmo tempo,
como ela havia dito que esse era seu pior pecado, ele temia pelo que viria pela
frente. Mal deu tempo de perceber que ela o estava deitando, com as costas já
marcadas pelo chicote, sobre as incômodas e dolorosas pedrinhas de aquário...
Ardia. A vontade que ele tinha
era de gritar, correr, bater nela até, quando ela disse que o sal das pedrinhas
ia ajudar a cicatrizar as costas. “Porra, que dor!” foi tudo o que conseguia
pensar com clareza, porque ao mesmo tempo em que quase se arrependia de estar
ali, uma força muito maior do que ele o impelia a ficar. Quanto mais ele se
debatia, e resmungava, mais doía, e aos poucos ele foi percebendo que o quanto
antes se rendesse, a dor cessaria. Sentiu que ela se aproximava dele, sentada
no chão e apesar do medo, uma onda de tranqüilidade tomava conta dele “São,
seguro e consensual. Eu posso fazer com que ela pare a hora que eu quiser.
Mas... eu não quero.”
Ela tirou a mordaça de sua boca
sob a promessa de que ele não gritaria. Soltou a echarpe de seda que lhe
cegava, e ficou, de frente pra ele, esperando q ele se sentasse. Chegou a rir
da cara de dor que ele fez quando se sentou, e percebeu que as malditas
pedrinhas lhe estavam grudadas nas costas. “Levanta, eu vou soltar as suas mãos
porque agora eu preciso de você de quatro, de cachorrinho, andando por esse
quarto.”
Quando ele ficou de pé, ela deu
mais uma volta ao redor dele, e tirou, pedrinha por pedrinha, das costas dele.
Cada marca daquela representava o mundo deles dois, a entrega, a submissão, a
capacidade de suportar dor e humilhação por prazer, os limites, a confiança, e
enquanto pensava nisso, mal se dera conta de que estava beijando as costas
dele, passando a língua, quente e ágil, desde o bumbum até o pescoço, e
abraçando-o por trás, passava as unhas pelo peito e pela barriga dele, até o
elástico da samba, que puxava, provocante, deixando à mostra a prova de que a
brincadeira deles era séria... Ficou de frente pra ele, na ponta dos pés, e
puxando-o pela nuca, o beijou. Ele abriu a boca e retribuiu passando a língua
nos lábios dela, deixando-a ainda mais excitada. Ela cravou as unhas no pescoço
dele, e eles se beijaram, sabe-se lá por quanto tempo, as línguas se
entrelaçando, chupando, mordendo, as mãos amarradas, inertes, sem poder tocar
nela, e por um momento foram apenas homem e mulher, não dominadora e submisso.
Só que ambos sabiam o que queriam um do outro, e cabia a ela conduzi-los ao
êxtase, e assim foi feito. Ela respirou fundo, mordeu-lhe os lábios, e lambeu
toda a extensão do corpo dele, da boca até os joelhos esfolados, passando por
“ele”, indócil dentro da samba canção, e dando uma mordidinha de leve sobre o
tecido. “Ainda não chegou a hora de tirar com o dente. Agora eu vou soltar suas
mãos e você vai ficar de quatro, meu cachorrinho.”
A simples lembrança dos joelhos
sobre as pedras lhe provocava arrepio, mas ele sabia que tinha ordens a
cumprir. E se colocou à frente dela, de quatro, cabeça baixa, esperando o cinto
que lhe servia de coleira, mas não foi o que ela passou em volta do pescoço
dele, era uma coleira mesmo. “Vem que eu vou te mostrar no espelho como você é
um cachorrinho lindo.” E foi puxando-o até um espelho de corpo inteiro, que
mostrava a mulher de pé ao lado dele, vestida com uma blusa preta transparente
que deixava quase à mostra os seios bem guardados na lingerie de renda também preta, com um olhar frio, impassível, mas
ao mesmo tempo transbordando de desejo por ele. Atordoado por se ver ali,
humilhado por ela, que o aproximava do espelho, ele finalmente entendeu o que
ela pretendia. E lia, em letras prateadas na coleira preta, o nome dela.
MORGANA.
Ela ordenou que ele ficasse de
joelhos e, sussurrando, disse no ouvido dele: “Agora você é meu, D. Definitivamente
meu. Sou eu quem vai te prender, te soltar, ou não. Sou eu quem vai te lamber,
te morder, te beijar, te excitar, levar você ao limite, e deixar você gozar, ou
não. Sou eu quem vai bater, mas também, sou eu quem vai curar a sua dor. Você é
meu, e vai ser a cada dia mais, até que eu não vou precisar mais de amarras pra
dominar você. Você vai se submeter pelo simples prazer de ser meu submisso.”
Ele se olhava no espelho e não
acreditava no que via, nem no que ouvia, mas menos ainda no que sentia. Sentia-se
humilhado, ridículo, de cueca samba canção, todo ralado, de coleira com um nome
fictício que o impedia de se mover, como se estivesse preso com correntes. Via
a mulher ao lado dele, baixinha, gordinha, de simpáticos olhos cor de mel que
num passe de mágica se tornavam frios como gelo, com os cabelos pretos caindo
sobre a tatuagem que tinha no ombro, via seus piercings brilharem no espelho e não acreditava que quanto mais
irracional isso parecia, mais queria estar ali, com ela, e ser submetido aos
caprichos dela. E percebeu que havia mergulhado com ela tão fundo, que já não
podiam mais emergir...
“D., acorda! Você é realmente um
submisso imprestável e sonhador. Disperso e indolente, mas eu vou cuidar disso.
De joelhos, porque agora você vai venerar os meus pés.” E mais uma vez ele
sentiu a dor e a lembrança das pedrinhas voltou a incomodar “Inferno! Que horas
ela vai me amarrar? Ela sabe o quanto eu quero isso, mas eu também sei que quem
manda aqui é ela. Merda!”
Colocou-se de frente a ela,
reverente, e tirou bem devagar o sapato preto de salto que ela usava.
Beijou-lhe os pés delicadamente, acariciou os dedos, lambeu um a um, e percebeu
que gostava disso. Repetiu o ritual com o outro pé, sugando-lhe os dedos, louco
de tesão, quando ela colocou os pés sobre o colo dele, assustado, se retraiu. “Calma,
eu não gosto de CBT, você sabe disso. Eu só vou fazer um carinho em você com os
pés.” E dito isso, começou a masturbá-lo, com os pés, sobre a cueca de seda.
Ele jogava a cabeça pra trás, e arfava, o corpo se contraía e quanto mais ela
olhava pra ele, mais gostava do que estava vendo. Ele transpirava desejo por
todos os poros, e com ela não era diferente. De repente, ela parou de
acariciá-lo e ficou de pé, pegou uma garrafa de vinho que esperava por eles,
abriu e despejou sobre os seios, e deixou escorrer até as pernas. Colocou a
venda nos olhos dele e disse: “Lambe, D. Eu quero ver o que você sabe fazer pra
dar prazer à sua Domme, mas você ta
proibido de me ver gozar. Pode começar!”
Ele abraçou as pernas dela e
começou a sorver, gota por gota do vinho que ela havia derramado. Passava a
língua sobre os pés dela, e subia, devagarzinho, até chegar aos joelhos. Deu
meia volta e começou a beijar a parte de trás, porque sabia que ela gostava
disso, subindo pelas coxas até chegar ao bumbum, e deu uma mordida de leve,
afinal, ela era a dominadora e por muito menos poderia castigá-lo. Mas resolveu
encarar a ousadia, e foi bem sucedido. Ela suspirou fundo e gemeu, indicando
claramente que estava gostando, muito. Ele a virou de frente pra ele e começou
a lamber a parte interna das coxas, sem deixar uma gotinha sequer de vinho
escorrer. Parou quando chegou “nela”, porque não sabia mesmo o que fazer, o que
ela esperava. Ficou de pé e abriu dois botões da blusa dela, e nesse momento
ela pensou que ele nascera pra profissão que exercia, porque,mesmo sem
enxergar, tinha talento com as mãos. Segurou de modo firme, e delicado, os
seios dela e passou a língua sobre eles. E entre eles, e lambeu, e beijou, e
mordeu, simplesmente porque não agüentava mais de vontade de gozar. Ele estava
explodindo, e sabia que ia ser breve, e tinha que se segurar por causa dos
castigos que viriam se ele gozasse sem a permissão dela.
Ela segurou o rosto dele, se
aproximou mais uma vez do ouvido e disse: “Agora você vai tirar a minha
calcinha, porque eu vou te amordaçar com ela.” Ele se abaixou devagar,
segurou-a pela cintura e tirou, mais devagar ainda, a calcinha dela, que tinha
o cheiro do perfume que ela usava. Estendeu a mão pra que a sua Domme pegasse a sua futura mordaça,
quando ela o segurou pela nuca, do jeito que adorava, se sentou na cama, abriu
as pernas e ordenou: “Me faça gozar”. E ele se aproximou, puxou-a pra beira da
cama e enfiou o rosto entre as pernas dela, beijando, lambendo, chupando com
força, e devagar, e a língua dele explorava aquele cantinho escondido que não
estava, de jeito nenhum, no script
pra ser explorado, mas, como já concordamos anteriormente, a vida é feita de
surpresas e algumas podem ser muito boas. E ela gemia, gritava, xingava e batia
no rosto dele, e segurava o cabelo e fazia com que ele enfiasse a língua ainda
mais fundo nela. E ele pode sentir o tremor das suas pernas, ouvir os seus
gemidos e sentir o seu gosto, quando ela disse: “D., gozei.”
Ele havia finalmente aprendido a
ser um bom submisso, e merecia sua recompensa depois de tanto sofrimento e todo
prazer que havia dado a ela. “Senta ali, naquela cadeira, e põe os braços pra
trás.” E ele caminhou, ainda extasiado, tateando as paredes, vendado e
impregnado pelo perfume dela, se sentou na cadeira e obediente, pôs as mãos pra
trás. Ela pegou duas amarras de plástico e prendeu bem firme as mãos dele, e
amarrou-lhe os braços com metros e metros de corda, pelos cotovelos - “Elbow bondage, amour” - e derramou sobre
o peito dele um óleo perfumado. Prendeu os pés com mais duas tiras nos pés da
cadeira e disse: “Por enquanto, chega de dor, mas abre a boca!”. Ele abriu a
boca sem oferecer resistência, ela chupou a língua dele, com força, e deu uma
mordida e disse, com a cara mais sacana do mundo: “Gosto bom”. Colocou a
calcinha de renda em sua boca, enquanto ele se debatia, ensaiando a rebeldia, e
ela pôs sobre os lábios dele quatro faixas de silvertape vermelha, pra combinar bem as cores. O som era abafado,
mas ele gemia, e se contorcia sobre a cadeira, e ela começou a espalhar o óleo
sobre o peito dele, e barriga, e passava as unhas, e ele jogava a cabeça pra
trás, de novo, e ela sentia o corpo desfalecer vendo o quando ele estava
excitado. Puxou um pouquinho o elástico da samba, e enfiou as duas mãos dentro
da cueca de seda. O óleo fazia com que suas mãos deslizassem sobre “ele”,
ágeis, quentes, e ela podia sentir o quanto pulsava, latejava, e sabia que ele
estava muito, muito próximo do orgasmo: “Eu não deixei você gozar, D.”
Parou de tocá-lo, e tornou a
lamber seu corpo. Ele se debatia, exausto, chorava, resmungava, porque já não
suportava mais aquela tortura. Privação do orgasmo era demais pra ele, o
deixava esgotado, irritado, agoniado, e quanto mais ele demonstrava essa insatisfação,
mais ela provocava. E ela dizia ao pé do ouvido que queria mais lágrimas, mais
gritos, mais desespero. Ela ria dele, debochava dos seus vãos esforços em se
soltar. Disse que iria embora, que voltaria de manhã pra soltá-lo. Tirou a
venda dele pra poder se deleitar com o medo nos seus olhos, e quanto mais ele
chorava, mais impassível ela se tornava. Humilhava e torturava, sem elevar a
voz. Dominado estava e dominado permaneceria, até que ela se cansou daquele
espetáculo e cortou as tiras, ordenando que ele se deitasse de bruços sobre a
cama.
Ele seguiu, derrotado, sem
nenhuma esperança, e se jogou na cama, de bruços, Ele sentou sobre as penas
dele e amarrou-lhe os braços pra trás, unindo aos tornozelos, em hogtied. Devia confessar pra si mesma
que poderia ter um orgasmo só em vê-lo naquela posição. Imóvel, amordaçado e
vendado, ela sentia a raiva que vinha dele, que ele não agüentava mais, e mais
ela queria. Pegou as velas espalhadas pelo quarto e tornou a castigar as
costas, o pescoço e a bunda. Jogava a parafina derretida na parte de trás das
coxas dele, e ele gritava, e quanto mais ele se contorcia, mais ela derramava,
bem devagar.
Esse tormento levou minutos
incontáveis, até que ela deitou ao lado dele na cama, e ficou em silêncio até
ele parar de chorar, de gritar e se debater.
Quando ele se acalmou, ela chegou bem pertinho, desatou os nós que o
prendiam e puxou o seu menino pro colo. Ele, vendado e amordaçado, dolorido, se
jogou, exausto sobre os seios dela. Ela pegou mais um pouco de óleo, e passou
no corpo dele, nas costas, com cuidado, nas pernas, nos ombros, massageando,
beijando com ternura, até, e pediu pra que ele se deitasse de barriga pra cima.
Afastou as pernas uma da outra, e os braços, e o prendeu em “X”, de leve,
porque a essa altura ele já não esboçava nenhuma reação. Passou a língua nos
mamilos dele, completamente arrepiados, e mordeu. Foi deslizando sobre o corpo
dele banhado de óleo, e quando chegou na cintura, mordeu o elástico da samba
canção. Foi descendo, devagar, observando a ereção dele, e todos os músculos do
corpo que pareciam se contorcer ao mesmo tempo, até chegar aos pés, e jogou
longe o short. Subiu lambendo as pernas dele, a parte de dentro das coxas,
mordendo, enquanto ele tentava, falsamente, se soltar, porque a última coisa
que queria naquele momento era sair dali. Começou a tocá-lo, devagar, e ele
gritava alguma coisa incompreensível, mas que ela sabia que era bom. E ele
suava, gemia, e ela aumentava o ritmo, segurando com as duas mãos, e diminuía a
velocidade e segurava com mais pressão, e quando nenhum dos dois agüentava mais
aquela atmosfera densa e sexual, ela passou a língua, e abriu a boca, e
colocou-o, inteiro, até se sentir sufocada, e lambeu, chupou, sugou, passou os
dentes de leve, deixando seu submisso ainda mais submisso às suas vontades,
dominado pela sua especialidade, pelo que ela mais gostava – e sabia – fazer.
Alternando as carícias com as
mãos e a boca, ela tirou a fita dos seus lábios, mais por capricho do que por
compaixão, porque queria ouvir claramente os gemidos dele. Mas ele não deixou
de se surpreender quando ela, mais uma vez chegou ao pé do ouvido dele e
perguntou: “O que você quer de mim, D.?” Por uma fração de segundos ele teve
dúvida do que responder, porque não sabia se tratava-se de prazer ou castigo,
mas resolveu arriscar: “Eu quero...ver você”.
A dominadora calmamente tirou-lhe
a venda dos olhos, e se colocou entre as pernas dele mais uma vez. Olhou o mais
fundo que pode nos olhos dele e disse: ”Olha pra mim. Você vai ver tudo, agora”
e mordeu o lábio, e passou a língua “nele”, percorrendo todos os centímetros
que tinha pra dar prazer. Abriu a boca, e engoliu inteiro, de cima pra baixo,
de baixo pra cima, e quanto mais olhava pro seu submisso, ora com os olhos
fixos nela, ora fechados, jogando a cabeça pra trás e gemendo, mais ela aumentava
o ritmo, e sabia o quão próximo ele estava de gozar nela, em seu rosto, em sua
boca, sobre seus seios, e também sabia que essa seria a maior prova de
submissão, mas DELA pra ELE, e por alguns instantes, isso a incomodou na alma.
Mas também sabia o quanto ele havia suportado pra estar ali, o quanto ele tinha
se dado pra ela, lembrou dos olhos dele no espelho admirando a coleira com o
nome dela, e o quanto isso era uma troca. Percebeu que o dominaria pra sempre,
se também se doasse pra ele. Olhou nos olhos dele e disse, baixinho: “Goza”. E
ele fechou os olhos, lindo, jogou a cabeça pra trás e deu um último gemido, de
prazer, de entrega, de tudo, e explodiu num orgasmo intenso, longo, e exausto,
finalmente relaxou. Ela, extasiada pela beleza do espetáculo que acabara de
assistir, levantou, devagar, e prendeu os cabelos negros, grudados no suor do
seu pescoço e percorreu os quatro lados da cama pra lhe soltar, com cuidado, os
pés e as mãos. Limpou o cantinho da boca, deu um beijo nele e fez carinho em
seu cabelo. Deitou, ao seu lado, e em silêncio, pegaram no sono.