segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Permita-me surpreendê-la

Aquela tinha tudo pra ser uma sexta feira como outra qualquer, a não ser pelo sonho que a havia despertado, agitada, ofegante e molhada – e não era só de suor... Uma inquietação tomou conta dela, e aquela agitação crescia, até que ela se levantou da cama, tomou um banho e começou a se preparar pra ir trabalhar. O dia seria cheio – experimentos, alunos, artigos científicos, mas mesmo sem entender bem o motivo que a levava a abrir uma gavetinha especial, ela pegou a maletinha que guardava com expectativa praquela ocasião mais que especial, e a colocou dentro da bolsa.

O dia transcorreu dentro da normalidade, mas a inquietação não a deixou em paz. Fazia muito tempo que não falava com seu “eleito”, e na verdade, achava que tudo o que ambos haviam alimentado durante todos aqueles meses, nunca sairia do papel. Até que num dado momento da tarde ela foi presenteada com as suas rosas virtuais, que deixavam seu dia sempre mais alegre. Mas aquele dia era diferente. Era O DIA. Ele, que sempre havia prometido surpreendê-la, perguntou, com sua alegria natural de menino, se ela tinha programado algo pra noite, porque finalmente, essa noite seria a noite deles...

Todas as coisas que haviam dito, todas as conversas densas, cheias de sensações, passaram pela cabeça dela numa fração de segundos. “Não, to livre hoje”, foi tudo o que conseguiu responder. Combinaram meio que às pressas o horário que se encontrariam e o local, e incrivelmente, toda a ansiedade que dominara seu dia, desaparecera. Era a Domme que começava a aflorar e fria, metódica e racional, analisava todas as coisas que precisavam ser feitas pra que a noite fosse inesquecível pra ambos.

“Merda! Não tenho nada aqui pra decorar o nosso cantinho, mas pelo menos trouxe meus brinquedos.” E, naquele momento, se deu conta de que ele estivera presente a noite inteira no sonho que a acordou pela manhã, e acreditou, mais uma vez, que esse menino estava mesmo predestinado a fazer com que as coisas acontecessem – desse certo ou errado – e que a afinidade deles era mesmo perturbadora...

Antes de chegar ao local combinado, comprou umas coisas, meio que de improviso, e correu pra chegar meia hora antes, pra dar tempo de preparar tudo. Não tinha sido exatamente como ela havia imaginado, mas afinal, que graça tem a vida se não tiver adrenalina e improviso?

Quando ele finalmente bateu à porta, ao contrário de tudo o que havia planejado, ela não conseguiu deixar de sorrir pra ele, e lhe dar um longo e aconchegante abraço. Parecia que tudo havia conspirado pra que o encontro deles fosse natural demais, sem as obrigatoriedades de contratos e regras. O abraço e o perfume dele rapidamente acenderam todos os alertas, e ela rapidamente assumiu o papel que ele esperara por tanto tempo. Abriu lentamente cada botão da camisa dele, olhando-o nos olhos, o mais profundo que pode, tentando ler os seus sinais. Quando ela jogou a camisa no chão, o corpo dele já mostrava, na tensão de cada músculo, nas pupilas dilatadas, na respiração ofegante, e, óbvio, dentro das calças, que ele estava mais do que pronto pra se entregar a ela.

Eles, que já haviam repassado roteiros e fantasias mais de um milhão de vezes, se deixaram levar por toda aquela atmosfera... Música, vinho e velas (que ela havia conseguido na última hora), deram os tons da noite. “D., vc sabe o que eu quero de você”, ela disse, com a voz firme e doce, sem deixar por um minuto sequer, de olhar fundo nos olhos dele. “Sim, senhora”, ele respondeu, com aquela voz grave, meio rouca, que a deixara enlouquecida por mais de uma vez. E se ajoelhou, de calça, sem camisa, baixou a cabeça em reverência à sua dona, e estendeu, timidamente, as mãos para serem amarradas por ela.

Ela tirou da maletinha uma corda pequena, vermelha, já preparada num nó de forca. Colocou-se bem à frente dele, passou a mão pela nuca, e segurou o cabelo, já molhado de suor, encostando a cabeça dele no seu umbigo de forma que ele, ajoelhado, pudesse sentir seu perfume doce, e seu cheiro de mulher. Ele, obediente, com as mãos esticadas, não disse uma palavra. Ela colocou as mãos dele dentro do círculo que o nó formava, e puxou, prendendo com força, impedindo-o de tocá-la de qualquer forma.

Naquele momento, parecia que o tempo havia parado pra presentear, submisso e dominadora, com a beleza daquele quadro. Ele, excitado demais pra conter os gemidos, olhava pras próprias mãos, meio que sem acreditar que finalmente estava acontecendo. Os olhos dela brilhavam, ao observar o contraste da corda vermelha com a pele branca dele, e a entrega, que ela começava a presenciar e tinha certeza de que ainda era mínima, que muitos limites seriam rompidos naquela noite...

“De pé, D.”, ela ordenou, e foi prontamente obedecida. “Agora, dê o seu jeito de tirar a calça”. Ele, com os olhos baixos, mexia os pulsos, tentando afrouxar um pouco a corda, enroscava nervosamente os dedos, enquanto ela andava ao redor dele, passando o chicote pelo pescoço e peito, nuca e costas, e, pra aumentar ainda mais a tensão dele, vendou-lhe os olhos. “Agora você vai contar até dez comigo. Se não conseguir tirar essa calça, vai começar a contar as chicotadas. Um, dois, três, quatro...” Obviamente que ele não foi feliz na primeira tarefa, e ela não sabia, na verdade, se havia sido sem querer ou de propósito, mas não fazia diferença, pois chegara o momento que castigar aquele submisso rebelde que sequer sabia se despir. “Pode começar a contar”, e quando ele disse “um” ao mesmo tempo ela ouviu o chicote estalando nas costas dele. O castigo durou até a sexta chicotada, quando ele finalmente conseguiu, suado e ofegante, tirar a calça.

A visão daquela samba canção preta, que ela parecia já conhecer de longa data, contrastando com a pele já mais vermelha que branca, nas costas e nos punhos, nublou, por um momento o julgamento da dominadora. Ela também já estava excitada demais com tudo o que via, sentia e tocava, cada detalhe despertava nela uma vontade de tocá-lo, de lamber cada pedacinho das costas dele que ardia, mas ela sabia que muito ainda os aguardava. “D., você sabe que merece ser castigado, não sabe? Você tem sido rebelde, relapso, e, principalmente, tem ditado muitas regras até aqui.” Como não restasse mesmo outra alternativa, ele respondeu, baixinho “Sim, senhora. Perdão, senhora”. Mas ela estava mesmo determinada a fazer com que ele aprendesse a ser o submisso que ela queria que ele fosse. “Eu disse pra você durante todo esse tempo que aqui, trancado comigo, você ia aprender a ser submisso de verdade. Ajoelha.”

Ele se ajoelhou novamente, amarrado e vendado, e quando deu por si ela já havia passado pelo pescoço dele o cinto, e puxava, como se fosse uma coleira. Sentiu que ela se afastava, e ouviu um barulho de saco plástico, o que foi suficiente pra que ele começasse a pedir, por favor, pra que ela não o sufocasse. “Cala a boca, escravo. Eu não quero ouvir a sua voz, e se você me desobedecer, o castigo será ainda mais dolorido!”

Como ele não parava de resmungar e choramingar, ela pegou a mordaça e, segurando o rosto dele pelas bochechas, o forçou a abrir a boca. Ele se debatia, tentava resistir, e falava, implorava e choramingava, e aquele jogo entre a caça e a caçadora fazia aumentar o desejo que os sufocava. Por fim, ela conseguiu colocar a mordaça em sua boca, e puxando com força, prendeu bem preso atrás da cabeça. Deu dois tapas de leve no rosto dele. “Ca-la-do”, falou, pausadamente. “Agora você vai ser conduzido até o cantinho do castigo, e vai ficar por lá até aprender como deve tratar a sua dona. Você tem sido indolente, folgado, imprestável e eu tive paciência demais com as suas vontades. Agora chega.”

E o levou até um canto do quarto, puxando pelo cinto e ele ficava ainda mais bonito se arrastando, desengonçado, mudo e cego, amarrado e choramingando. Ela mexeu novamente no saco plástico e pode sentir o arrepio que percorreu o corpo dele. Puxou carinhosamente os cabelos molhados dele, se aproximou do ouvido e disse pra ele ficar calmo. Perguntou se ele confiava nela e ele assentiu, e então pode ouvir o barulho de alguma coisa sendo espalhada pelo chão.

Ele não conseguiu ver o que era, mas pode sentir os joelhos sendo esfolados pelo que pareciam ser pedrinhas. Então se lembrou de uma conversa que tiveram sobre castigos, em que ela havia mencionado que o colocaria de joelho sobre pedrinhas de aquário. As lágrimas já escorriam, involuntariamente, dos olhos dele, molhando a echarpe de seda que ela usara pra vendá-lo. “Você sabe por que está de castigo, D.?” Ele balançou a cabeça em negativa, e sentiu que ela se colocava atrás dele, e pode sentir também as cerdas frias do chicote. “Não? Você não sabe? Vou te dizer alguns motivos, então.”

As pedrinhas ralando o joelho dele, o chicote roçando as costas, foram tornando crescente e quase insuportável o desespero dele. “Bom, pra começar, você me deixou esperando por você mais de uma vez, e isso é inadmissível pra uma Domme. Você acha isso certo, D.?” Ele fez que não com a cabeça e ela disse, cinicamente, que já que ele havia admitido seu pecado assim, tão facilmente, que a chicotada ia ser leve. Mal deu tempo pra ele assimilar essa informação, tamanha aflição que as pedrinhas provocavam, e sentiu a chicotada nas costas.

“Em segundo lugar, você tem se comportado como um menino mal-educado. Não se despede da sua dona, simplesmente desaparece quando estamos conversando, e isso me irrita demais. Você pretende repetir isso, daqui pra frente?” Ele fez que não, mais uma vez, mas ela resolveu achar que ele tinha hesitado algum tempo antes de responder. “Por causa da sua indolência, você vai apanhar de novo, e não se esqueça de me agradecer.”

Mais uma chicotada, lágrimas escorrendo, pedrinhas machucando os joelhos, a perna inteira, dor, sofrimento, e humilhação. Era realmente aquilo que ele viera buscar? Por mais que ele negasse, o corpo não negava o desejo. Ele estava excitadíssimo, quente e latejante, preso naquela samba canção, e sabia que precisava suportar tudo aquilo pra alcançar a redenção só ela podia dar. O poder que ela exercia sobre ele era soberano, ele poderia simplesmente fazer o gesto de segurança que tudo pararia, mas não queria, ele precisava ter os seus limites rompidos por ela pra usufruir de todo o prazer que ela podia lhe dar.

“Por fim, D., o seu pecado mais grave: despertar esse tesão perturbador em mim. Inicialmente eu nem tocaria em você, e abri essa concessão porque imaginar a sua pele, branca, adornada por essas cordas vermelhas, dentro dessa samba de seda preta, me deixavam fora de mim. E os dias foram passando, e você com todo esse seu jeito de bom moço foi me provocando, provocando, até que eu percebi que sentiria necessidade de ser tocada por você. Nós conhecemos os limites rígidos um do outro, e quando eu dei por mim, tinha que escolher entre meu limite e o meu desejo. Isso foi uma falta grave e você tem que responder por ela.

Ele, exausto e dolorido, meneou a cabeça no que pareceu ser um sim. Ela pediu que ele se sentasse, o que lhe deu certo alívio, pois não havia sinal do chicote nas costas, mas ao mesmo tempo, como ela havia dito que esse era seu pior pecado, ele temia pelo que viria pela frente. Mal deu tempo de perceber que ela o estava deitando, com as costas já marcadas pelo chicote, sobre as incômodas e dolorosas pedrinhas de aquário...

Ardia. A vontade que ele tinha era de gritar, correr, bater nela até, quando ela disse que o sal das pedrinhas ia ajudar a cicatrizar as costas. “Porra, que dor!” foi tudo o que conseguia pensar com clareza, porque ao mesmo tempo em que quase se arrependia de estar ali, uma força muito maior do que ele o impelia a ficar. Quanto mais ele se debatia, e resmungava, mais doía, e aos poucos ele foi percebendo que o quanto antes se rendesse, a dor cessaria. Sentiu que ela se aproximava dele, sentada no chão e apesar do medo, uma onda de tranqüilidade tomava conta dele “São, seguro e consensual. Eu posso fazer com que ela pare a hora que eu quiser. Mas... eu não quero.”

Ela tirou a mordaça de sua boca sob a promessa de que ele não gritaria. Soltou a echarpe de seda que lhe cegava, e ficou, de frente pra ele, esperando q ele se sentasse. Chegou a rir da cara de dor que ele fez quando se sentou, e percebeu que as malditas pedrinhas lhe estavam grudadas nas costas. “Levanta, eu vou soltar as suas mãos porque agora eu preciso de você de quatro, de cachorrinho, andando por esse quarto.”

Quando ele ficou de pé, ela deu mais uma volta ao redor dele, e tirou, pedrinha por pedrinha, das costas dele. Cada marca daquela representava o mundo deles dois, a entrega, a submissão, a capacidade de suportar dor e humilhação por prazer, os limites, a confiança, e enquanto pensava nisso, mal se dera conta de que estava beijando as costas dele, passando a língua, quente e ágil, desde o bumbum até o pescoço, e abraçando-o por trás, passava as unhas pelo peito e pela barriga dele, até o elástico da samba, que puxava, provocante, deixando à mostra a prova de que a brincadeira deles era séria... Ficou de frente pra ele, na ponta dos pés, e puxando-o pela nuca, o beijou. Ele abriu a boca e retribuiu passando a língua nos lábios dela, deixando-a ainda mais excitada. Ela cravou as unhas no pescoço dele, e eles se beijaram, sabe-se lá por quanto tempo, as línguas se entrelaçando, chupando, mordendo, as mãos amarradas, inertes, sem poder tocar nela, e por um momento foram apenas homem e mulher, não dominadora e submisso. Só que ambos sabiam o que queriam um do outro, e cabia a ela conduzi-los ao êxtase, e assim foi feito. Ela respirou fundo, mordeu-lhe os lábios, e lambeu toda a extensão do corpo dele, da boca até os joelhos esfolados, passando por “ele”, indócil dentro da samba canção, e dando uma mordidinha de leve sobre o tecido. “Ainda não chegou a hora de tirar com o dente. Agora eu vou soltar suas mãos e você vai ficar de quatro, meu cachorrinho.”

A simples lembrança dos joelhos sobre as pedras lhe provocava arrepio, mas ele sabia que tinha ordens a cumprir. E se colocou à frente dela, de quatro, cabeça baixa, esperando o cinto que lhe servia de coleira, mas não foi o que ela passou em volta do pescoço dele, era uma coleira mesmo. “Vem que eu vou te mostrar no espelho como você é um cachorrinho lindo.” E foi puxando-o até um espelho de corpo inteiro, que mostrava a mulher de pé ao lado dele, vestida com uma blusa preta transparente que deixava quase à mostra os seios bem guardados na lingerie de renda também preta, com um olhar frio, impassível, mas ao mesmo tempo transbordando de desejo por ele. Atordoado por se ver ali, humilhado por ela, que o aproximava do espelho, ele finalmente entendeu o que ela pretendia. E lia, em letras prateadas na coleira preta, o nome dela. MORGANA.

Ela ordenou que ele ficasse de joelhos e, sussurrando, disse no ouvido dele: “Agora você é meu, D. Definitivamente meu. Sou eu quem vai te prender, te soltar, ou não. Sou eu quem vai te lamber, te morder, te beijar, te excitar, levar você ao limite, e deixar você gozar, ou não. Sou eu quem vai bater, mas também, sou eu quem vai curar a sua dor. Você é meu, e vai ser a cada dia mais, até que eu não vou precisar mais de amarras pra dominar você. Você vai se submeter pelo simples prazer de ser meu submisso.”

Ele se olhava no espelho e não acreditava no que via, nem no que ouvia, mas menos ainda no que sentia. Sentia-se humilhado, ridículo, de cueca samba canção, todo ralado, de coleira com um nome fictício que o impedia de se mover, como se estivesse preso com correntes. Via a mulher ao lado dele, baixinha, gordinha, de simpáticos olhos cor de mel que num passe de mágica se tornavam frios como gelo, com os cabelos pretos caindo sobre a tatuagem que tinha no ombro, via seus piercings brilharem no espelho e não acreditava que quanto mais irracional isso parecia, mais queria estar ali, com ela, e ser submetido aos caprichos dela. E percebeu que havia mergulhado com ela tão fundo, que já não podiam mais emergir...

“D., acorda! Você é realmente um submisso imprestável e sonhador. Disperso e indolente, mas eu vou cuidar disso. De joelhos, porque agora você vai venerar os meus pés.” E mais uma vez ele sentiu a dor e a lembrança das pedrinhas voltou a incomodar “Inferno! Que horas ela vai me amarrar? Ela sabe o quanto eu quero isso, mas eu também sei que quem manda aqui é ela. Merda!”

Colocou-se de frente a ela, reverente, e tirou bem devagar o sapato preto de salto que ela usava. Beijou-lhe os pés delicadamente, acariciou os dedos, lambeu um a um, e percebeu que gostava disso. Repetiu o ritual com o outro pé, sugando-lhe os dedos, louco de tesão, quando ela colocou os pés sobre o colo dele, assustado, se retraiu. “Calma, eu não gosto de CBT, você sabe disso. Eu só vou fazer um carinho em você com os pés.” E dito isso, começou a masturbá-lo, com os pés, sobre a cueca de seda. Ele jogava a cabeça pra trás, e arfava, o corpo se contraía e quanto mais ela olhava pra ele, mais gostava do que estava vendo. Ele transpirava desejo por todos os poros, e com ela não era diferente. De repente, ela parou de acariciá-lo e ficou de pé, pegou uma garrafa de vinho que esperava por eles, abriu e despejou sobre os seios, e deixou escorrer até as pernas. Colocou a venda nos olhos dele e disse: “Lambe, D. Eu quero ver o que você sabe fazer pra dar prazer à sua Domme, mas você ta proibido de me ver gozar. Pode começar!”

Ele abraçou as pernas dela e começou a sorver, gota por gota do vinho que ela havia derramado. Passava a língua sobre os pés dela, e subia, devagarzinho, até chegar aos joelhos. Deu meia volta e começou a beijar a parte de trás, porque sabia que ela gostava disso, subindo pelas coxas até chegar ao bumbum, e deu uma mordida de leve, afinal, ela era a dominadora e por muito menos poderia castigá-lo. Mas resolveu encarar a ousadia, e foi bem sucedido. Ela suspirou fundo e gemeu, indicando claramente que estava gostando, muito. Ele a virou de frente pra ele e começou a lamber a parte interna das coxas, sem deixar uma gotinha sequer de vinho escorrer. Parou quando chegou “nela”, porque não sabia mesmo o que fazer, o que ela esperava. Ficou de pé e abriu dois botões da blusa dela, e nesse momento ela pensou que ele nascera pra profissão que exercia, porque,mesmo sem enxergar, tinha talento com as mãos. Segurou de modo firme, e delicado, os seios dela e passou a língua sobre eles. E entre eles, e lambeu, e beijou, e mordeu, simplesmente porque não agüentava mais de vontade de gozar. Ele estava explodindo, e sabia que ia ser breve, e tinha que se segurar por causa dos castigos que viriam se ele gozasse sem a permissão dela.

Ela segurou o rosto dele, se aproximou mais uma vez do ouvido e disse: “Agora você vai tirar a minha calcinha, porque eu vou te amordaçar com ela.” Ele se abaixou devagar, segurou-a pela cintura e tirou, mais devagar ainda, a calcinha dela, que tinha o cheiro do perfume que ela usava. Estendeu a mão pra que a sua Domme pegasse a sua futura mordaça, quando ela o segurou pela nuca, do jeito que adorava, se sentou na cama, abriu as pernas e ordenou: “Me faça gozar”. E ele se aproximou, puxou-a pra beira da cama e enfiou o rosto entre as pernas dela, beijando, lambendo, chupando com força, e devagar, e a língua dele explorava aquele cantinho escondido que não estava, de jeito nenhum, no script pra ser explorado, mas, como já concordamos anteriormente, a vida é feita de surpresas e algumas podem ser muito boas. E ela gemia, gritava, xingava e batia no rosto dele, e segurava o cabelo e fazia com que ele enfiasse a língua ainda mais fundo nela. E ele pode sentir o tremor das suas pernas, ouvir os seus gemidos e sentir o seu gosto, quando ela disse: “D., gozei.”

Ele havia finalmente aprendido a ser um bom submisso, e merecia sua recompensa depois de tanto sofrimento e todo prazer que havia dado a ela. “Senta ali, naquela cadeira, e põe os braços pra trás.” E ele caminhou, ainda extasiado, tateando as paredes, vendado e impregnado pelo perfume dela, se sentou na cadeira e obediente, pôs as mãos pra trás. Ela pegou duas amarras de plástico e prendeu bem firme as mãos dele, e amarrou-lhe os braços com metros e metros de corda, pelos cotovelos - “Elbow bondage, amour” - e derramou sobre o peito dele um óleo perfumado. Prendeu os pés com mais duas tiras nos pés da cadeira e disse: “Por enquanto, chega de dor, mas abre a boca!”. Ele abriu a boca sem oferecer resistência, ela chupou a língua dele, com força, e deu uma mordida e disse, com a cara mais sacana do mundo: “Gosto bom”. Colocou a calcinha de renda em sua boca, enquanto ele se debatia, ensaiando a rebeldia, e ela pôs sobre os lábios dele quatro faixas de silvertape vermelha, pra combinar bem as cores. O som era abafado, mas ele gemia, e se contorcia sobre a cadeira, e ela começou a espalhar o óleo sobre o peito dele, e barriga, e passava as unhas, e ele jogava a cabeça pra trás, de novo, e ela sentia o corpo desfalecer vendo o quando ele estava excitado. Puxou um pouquinho o elástico da samba, e enfiou as duas mãos dentro da cueca de seda. O óleo fazia com que suas mãos deslizassem sobre “ele”, ágeis, quentes, e ela podia sentir o quanto pulsava, latejava, e sabia que ele estava muito, muito próximo do orgasmo: “Eu não deixei você gozar, D.”

Parou de tocá-lo, e tornou a lamber seu corpo. Ele se debatia, exausto, chorava, resmungava, porque já não suportava mais aquela tortura. Privação do orgasmo era demais pra ele, o deixava esgotado, irritado, agoniado, e quanto mais ele demonstrava essa insatisfação, mais ela provocava. E ela dizia ao pé do ouvido que queria mais lágrimas, mais gritos, mais desespero. Ela ria dele, debochava dos seus vãos esforços em se soltar. Disse que iria embora, que voltaria de manhã pra soltá-lo. Tirou a venda dele pra poder se deleitar com o medo nos seus olhos, e quanto mais ele chorava, mais impassível ela se tornava. Humilhava e torturava, sem elevar a voz. Dominado estava e dominado permaneceria, até que ela se cansou daquele espetáculo e cortou as tiras, ordenando que ele se deitasse de bruços sobre a cama.

Ele seguiu, derrotado, sem nenhuma esperança, e se jogou na cama, de bruços, Ele sentou sobre as penas dele e amarrou-lhe os braços pra trás, unindo aos tornozelos, em hogtied. Devia confessar pra si mesma que poderia ter um orgasmo só em vê-lo naquela posição. Imóvel, amordaçado e vendado, ela sentia a raiva que vinha dele, que ele não agüentava mais, e mais ela queria. Pegou as velas espalhadas pelo quarto e tornou a castigar as costas, o pescoço e a bunda. Jogava a parafina derretida na parte de trás das coxas dele, e ele gritava, e quanto mais ele se contorcia, mais ela derramava, bem devagar.

Esse tormento levou minutos incontáveis, até que ela deitou ao lado dele na cama, e ficou em silêncio até ele parar de chorar, de gritar e se debater.  Quando ele se acalmou, ela chegou bem pertinho, desatou os nós que o prendiam e puxou o seu menino pro colo. Ele, vendado e amordaçado, dolorido, se jogou, exausto sobre os seios dela. Ela pegou mais um pouco de óleo, e passou no corpo dele, nas costas, com cuidado, nas pernas, nos ombros, massageando, beijando com ternura, até, e pediu pra que ele se deitasse de barriga pra cima. Afastou as pernas uma da outra, e os braços, e o prendeu em “X”, de leve, porque a essa altura ele já não esboçava nenhuma reação. Passou a língua nos mamilos dele, completamente arrepiados, e mordeu. Foi deslizando sobre o corpo dele banhado de óleo, e quando chegou na cintura, mordeu o elástico da samba canção. Foi descendo, devagar, observando a ereção dele, e todos os músculos do corpo que pareciam se contorcer ao mesmo tempo, até chegar aos pés, e jogou longe o short. Subiu lambendo as pernas dele, a parte de dentro das coxas, mordendo, enquanto ele tentava, falsamente, se soltar, porque a última coisa que queria naquele momento era sair dali. Começou a tocá-lo, devagar, e ele gritava alguma coisa incompreensível, mas que ela sabia que era bom. E ele suava, gemia, e ela aumentava o ritmo, segurando com as duas mãos, e diminuía a velocidade e segurava com mais pressão, e quando nenhum dos dois agüentava mais aquela atmosfera densa e sexual, ela passou a língua, e abriu a boca, e colocou-o, inteiro, até se sentir sufocada, e lambeu, chupou, sugou, passou os dentes de leve, deixando seu submisso ainda mais submisso às suas vontades, dominado pela sua especialidade, pelo que ela mais gostava – e sabia – fazer.

Alternando as carícias com as mãos e a boca, ela tirou a fita dos seus lábios, mais por capricho do que por compaixão, porque queria ouvir claramente os gemidos dele. Mas ele não deixou de se surpreender quando ela, mais uma vez chegou ao pé do ouvido dele e perguntou: “O que você quer de mim, D.?” Por uma fração de segundos ele teve dúvida do que responder, porque não sabia se tratava-se de prazer ou castigo, mas resolveu arriscar: “Eu quero...ver você”.

A dominadora calmamente tirou-lhe a venda dos olhos, e se colocou entre as pernas dele mais uma vez. Olhou o mais fundo que pode nos olhos dele e disse: ”Olha pra mim. Você vai ver tudo, agora” e mordeu o lábio, e passou a língua “nele”, percorrendo todos os centímetros que tinha pra dar prazer. Abriu a boca, e engoliu inteiro, de cima pra baixo, de baixo pra cima, e quanto mais olhava pro seu submisso, ora com os olhos fixos nela, ora fechados, jogando a cabeça pra trás e gemendo, mais ela aumentava o ritmo, e sabia o quão próximo ele estava de gozar nela, em seu rosto, em sua boca, sobre seus seios, e também sabia que essa seria a maior prova de submissão, mas DELA pra ELE, e por alguns instantes, isso a incomodou na alma. Mas também sabia o quanto ele havia suportado pra estar ali, o quanto ele tinha se dado pra ela, lembrou dos olhos dele no espelho admirando a coleira com o nome dela, e o quanto isso era uma troca. Percebeu que o dominaria pra sempre, se também se doasse pra ele. Olhou nos olhos dele e disse, baixinho: “Goza”. E ele fechou os olhos, lindo, jogou a cabeça pra trás e deu um último gemido, de prazer, de entrega, de tudo, e explodiu num orgasmo intenso, longo, e exausto, finalmente relaxou. Ela, extasiada pela beleza do espetáculo que acabara de assistir, levantou, devagar, e prendeu os cabelos negros, grudados no suor do seu pescoço e percorreu os quatro lados da cama pra lhe soltar, com cuidado, os pés e as mãos. Limpou o cantinho da boca, deu um beijo nele e fez carinho em seu cabelo. Deitou, ao seu lado, e em silêncio, pegaram no sono.

























quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Nosso conto de fadas

Essa minha necessidade louca de escrever ainda vai me colocar em maus lençóis... De tanto descrever, e claro, fantasiar como seria a minha primeira sessão BDSM com D., eu escrevi um conto erótico pra tentar dimensionar, nem que fossem dez por cento, de tudo o que eu tenho vontade de fazer com ele...



Ela chega ao quarto do motel e olha o ambiente ao redor. Confere as cadeiras, pesadas, e os lençóis, brancos e impecáveis onde deitará o homem que ousou despertar essa força quase visceral dentro dela, depois de tantos anos... Coloca pra tocar a trilha sonora gravada especialmente pra esse encontro– Slave to love é a primeira música – e sente o coração bater, descompassado, e o corpo todo ser dominado por um sentimento de torpor, até que desperta dos seus devaneios e se lembra que tem que começar a preparar a cena.

Começa a tirar da bolsa todos os acessórios que serão usados naquela noite. Acende as velas, coloca-as em pontos estratégicos do quarto pra criar uma iluminação especial, porque especial é o mínimo que ela quer de tudo isso. Acende um incenso, de ópio, pra relaxar, e relaxa ainda mais acendendo um cigarro, que fuma olhando pela janela enquanto abre um botão da blusa preta transparente, revelando lingerie de renda comprada especialmente pra esse encontro. “Ele gosta de preto”, pensa, e morde o lábio pintado de vermelho sangue, fechando os olhos, num momento de profunda excitação.

Então põe sobre a cama tudo aquilo que ele quer. “São sempre eles os grandes manipuladores que nos fazem pensar que somos nós quem comandamos, quando na verdade, somos atores do espetáculo de dar prazer a eles”. E o seu submisso merece tudo aquilo o que veio buscar. Prazer, humilhação e dor. Ele ousou tirá-la do casulo de sua tranquilidade e começou a despejar doses cavalares de adrenalina em suas veias. Ele a seduziu como bom moço que é, sempre disposto a servir e deixar que ela fizesse o que quisesse com ele. Ele se dispôs a entregar-se por completo, porque sabia que era isso que ela mais desejava e que não conseguiria resistir aos seus apelos de “faça o que quiser comigo”. Isso, pra uma predadora, é uma oferta irrecusável. E ele sabia disso.

Sete horas. Uma batida na porta e o sangue gela. E ferve. As bochechas coradas, sua marca registrada, já não incomodam mais, tamanha tempestade de emoções que ela está sentindo. Abre a porta e ele vem, seu cheiro invade o quarto e o sorriso dele ilumina a cena. Quando ele se aproxima, pra dar dois beijinhos no rosto e aquele abraço aconchegante, ela dá dois passos pra trás, olha friamente em seus olhos e não diz uma única palavra. “Somos muito compatíveis”, ela repete mentalmente uma frase que ele havia dito em uma de suas conversas, e torce pra que ele tenha entendido o recado.

E é óbvio que ele entendeu. Nesse exato momento ele coloca a mochila no chão e se ajoelha, em posição de reverência, com a cabeça encostada nos joelhos, aos pés dela. E assim ficam os dois, naquela atmosfera em preto e branco, a dominadora experimentando o poder sobre seu submisso e ele aguardando as ordens. “Tira a camisa”, ela diz. E ele responde “sim, senhora”, e começa a tirar, lentamente, permitindo que ela observe – e deseje – cada centímetro da pele branca em que ela quer deixar as suas marcas...

“Fica de pé”, ela ordena. “Agora, dispa-se, mas não por inteiro”. Ele esconde um sorriso de satisfação, afinal, não pode sorrir largamente pra ela sob a pena de receber um castigo, mas experimenta a sedução que exerce sobre ela, quando percebe seus olhos fixos na samba-canção preta de seda.

“Agora é que o jogo começa, D. Mas antes a gente precisa estabelecer as palavras e os gestos de segurança. Enquanto puder falar, amarelo pra diminuir o ritmo e vermelho pra parar imediatamente. Amordaçado, amarrado e vendado, você vai ter que confiar em mim. Porque eu vou ter que aprender a ler o teu corpo, e você vai ter q se esforçar pra emitir sinais claros pra mim...”

A atmosfera do quarto é densa, como se eles pudessem pegar o desejo com as mãos. Respiração ofegante, coração acelerado e aquela sensação, de frio na barriga, que ambos curtiram por meses antes de concretizarem essa fantasia. Então ela ordena mais uma vez que ele se ajoelhe, mas dessa vez, com o tronco ereto, e pega o cinto preto sobre a mesinha. “Vem cá, meu bichinho de estimação. Não foi pra isso que você veio?” e prende o pescoço dele como se fosse uma coleira. “De quatro, que agora você vai beber aguinha no pires, como um bom animalzinho adestrado.”

E ele segue engatinhando, sendo conduzido por sua dona, que observa, atenta, cada músculo do corpo dele que se contrai, de ansiedade, de dúvida, mas não de medo. Ao menos não agora. “Bebe. Lambe a água bem devagar como se fosse o meu corpo”. E ele lambe a borda do pires, e sorve a água como se fosse sagrada. “Agora você vai levantar, beijar e lamber meu pescoço. E quando eu disser ‘chega’, você se senta nessa cadeira, com as pernas abertas e de costas pra mim.” Ele murmura um tímido “sim, senhora” e se aproxima dela, devagar, abraçando-a por trás e, inebriado pelo perfume dela, passa a língua ainda gelada da água que acabara de beber em sua nuca e beija, ternamente o pescoço da sua dominadora. Quando o corpo dele começa a dar sinais claros de excitação, ela diz “Chega. Não se esqueça de que você não é nada pra mim, nós estamos aqui para o meu prazer, e não pro seu. Sente-se.”

Ele puxa a cadeira e se senta de frente, com as pernas abertas, abraçando o encosto. Numa fração de segundo dirige o olhar pra sua Domme e ela vê, mas encara isso como uma provocação, e não como um descuido, já que ela sabe o quanto ele quer ser vendado. “Como é que você ousa olhar pra mim sem que eu ordene? De agora em diante, você não vai ver mais nada.” E com essa frase, que é mais um prêmio do que uma punição pra ele, ela pega a echarpe preta de seda, se coloca atrás dele, deixando que o delicado tecido da camisa e os seios guardados pela renda preta rocem as costas dele, que deixa escapar um suspiro de prazer. E cuidadosamente coloca a venda em seus olhos, dando duas voltas pra garantir a privação da visão, e amarra bem forte atrás da cabeça, não sem antes enfiar os dedos sob seus cabelos e morder, longa e lentamente, o pescoço, tão livremente oferecido a ela.

Ela caminha até a cama e pega um saquinho de onde tira algumas braçadeiras, dessas de plástico, e olha para a o seu menino, indefeso, em posição de total entrega. Prende cada um de seus pés aos pés da cadeira, e como ele continua abraçado ao encosto da cadeira, ela pega seus braços e os coloca perpendiculares, um sobre o outro, e passa uma braçadeira sobre cada punho, prendendo duas vezes, que é pra deixá-lo bem imóvel. “Abre a boca”, e o faz engolir a mordaça preta que por muito tempo povoou a imaginação dele. Prende com cuidado atrás da cabeça e sussurra em seu ouvido: “Agora você é meu, teu corpo é meu, tuas sensações são minhas. Tua dor é minha, e não adianta gritar porque eu não vou parar.” E pega o chicote, e o estala no ar, pra provar daquela sensação de poder há tempos esquecida, e que ele, inadvertidamente, quis experimentar...

As tiras do chicote sobre a pele branca das suas costas a hipnotizavam. A cada marca, a vontade de passar a língua quente, como as leoas fazem com seus filhotes machucados, tomavam conta dela, e cada músculo do seu corpo se contraía de prazer, ao ver que ele sentia aquela dor e ainda assim queria estar ali, queria estar preso, queria estar com ela. E não souberam quanto tempo durou todo esse frenesi, os corpos pegando fogo, de desejo, e o dele, também pelo carinho especial que acabara de receber. Então ela, não resistindo mais a vontade de tocá-lo, morde, de leve a sua nuca e passa a língua pelo pescoço e ombros, e desce até as costas, percorrendo cada pedacinho, enquanto, como uma menina travessa, beliscava por cima da samba canção aquela bundinha que ainda ia apanhar muito naquela noite... E essa deliciosa tortura continuou por um tempo que nenhum dos dois conseguiu mensurar, eram mordidas, arranhões, lambidas e beliscões, e ele se contorcia, numa falsa vontade de se soltar, enquanto ela sussurrava palavras em seu ouvido que lhe traziam um misto de prazer e temor, mas no fundo ele já sabia que estava escravizado àquilo tudo, e queria. E queria muito.

Ela o deixou por alguns instantes enquanto arrumava a cama, preparando cada detalhe pro melhor da festa que ainda estava por vir. Depois, sentou-se na cama, de frente pra ele, e ficou observando o homem, o menino, o submisso que estava à frente dela e pensou no quanto ele estava certo quando disse que faria de tudo pra agradá-la. “E não é que ele tá conseguindo?” Enquanto isso, ele ainda sob o efeito de toda a adrenalina que tinha inundado o ambiente, ainda tentava se soltar, e ela ria, e dizia que a vontade dela era soberana e que ele só iria sair dali se chorasse, como um bebê, um ridículo bebê indefeso que dependia dela pra fazer suas vontades. Ele esperneou, tentou protestar, e ela, com arrogância e deboche dizia: “Fala mais alto que não ouço você”. Ele se debatia sobre a cadeira, e quando as braçadeiras começaram a apertar demais por causa dos seus movimentos, não teve jeito. As lágrimas caíram e ela foi, piedosa e altiva, soltar os pés e mãos do seu submisso, e beijou seus olhos molhados de lágrimas quentes e salgadas, que escorriam pela face e seguindo o curso das lágrimas beijou-lhe o rosto e, tirando a mordaça, passou a língua em seus lábios e depois explorando cada centímetro da sua boca, explodiu num beijo que terminou com a mordida mais deliciosa que ela pode dar, e pela qual esperou tempo demais...

A imagem dele vendado, de samba canção preta, com as costas, punhos e tornozelos cheios das marcas daquela briga em que ambos eram vencedores, era linda. Ela desviava o olhar, numa tentativa quase desesperada de controlar o tesão que sentia por ele naquele momento. Então, ela o tomou pelas mãos e o conduziu até a cama. Antes que ele deitasse, ela ordenou: ”Dispa-se”. E fez com q ele deitasse de bruços, deixando à mostra as costas que ela mordera e chicoteara, e a bunda (ah, que bunda!) que ela pretendia fazer o mesmo!

Depois de muito improviso, ela recolocou a mordaça e conseguiu prender suas mãos e pés em “x”, deixando-o completamente exposto e vulnerável a todas as suas vontades. Abriu um estojinho que estava dentro da bolsa e tirou dele um objeto metálico, e passou sobre as marcas que o chicote havia deixado em suas costas. Ele se contorcia, de prazer, de medo, mas ao mesmo tempo em que se sentia anulado e vulnerável, sabia que, naquele momento, ninguém podia lhe dar mais segurança que ela. Ele ouviu o barulho do frigobar sendo aberto e já imaginou o que viria pela frente, e sentiu o gelo percorrendo seu corpo, desde a planta dos pés até a cabeça. Ela passava os cubinhos devagar, até que o frio se tornasse quente e o quente se tornasse dor. Pelos tornozelos, pela panturrilha, pelas coxas... quando chegou ao bumbum ela se demorou mais, porque ainda não havia curtido o suficiente uma das partes mais desejadas do corpo dele. Subiu às costas, enquanto ele se contorcia, se debatia, querendo se soltar e fugir daquela tortura insuportável e deliciosa, e quando ela perguntou se ele queria mais e ele assentiu com a cabeça, ela o lembrou mais uma vez que o prazer era dela, e não  dele, e por isso, ele merecia, sem dúvidas, ser castigado.

Tirou as sandálias de salto, sentou-se sobre as pernas dele e deu a primeira palmada na bunda. Os cinco dedos de sua mão ficaram marcados, e quanto mais ele se debatia, e ela ouvia seus gritos e gemidos abafados pela mordaça, mais ela batia. E depois de um tempo que pareceu uma eternidade pra ele, ela novamente perguntou “Quer mais?” e ele, como bom submisso que era à sua dominadora, fez que não. Assim, ela já sabia q era a hora da recompensa e pra contrastar com o carinho gélido, ela beijou e lambeu seu corpo, num percurso quente, úmido e latejante de todas as mucosas...

Ele ainda de bruços, marcado e dolorido por tudo a que havia sido submetido, e ela, tomada pela certeza de que a dominação era a alma dela, corria no sangue dela, e sabendo que o que mais prende um submisso é a vontade de estar com a dominadora, decidiu dar a ele o presente que ele tanto queria. Soltou as mãos e pés, e ordenou que ele ficasse parado e quieto, e juntou seus braços pra trás, amarrando os punhos e depois os cotovelos, e, tornozelos, e os uniu aos punhos atados num lindo e perfeito hogtied. Obviamente que, como ele já sabia que o prazer era dela, as chicotadas agora foram mais intensas, mas nada que ultrapassasse qualquer limite rígido.

Imersa num delírio quase irracional, ela percebeu que a música agora era One, do U2. Curiosamente,Bono Vox dizia: “You ask me to enter, but then you make me crawl. And I can't keep holding on to what you got. When all you got is hurt.” E riu. Não pôde deixar de achar graça porque era exatamente aquilo o que estava acontecendo...Enquanto isso, ele se debatia, cada vez mais, então ela se aproximou dele e disse: “Você queria ser dominado por mim, você queria ser meu. Agora eu sou sua dona e você é o capacho que vai fazer tudo, absolutamente tudo o que eu quiser, porque você não é nada além do meu objeto de prazer.” E ele, mais uma vez, assentiu com a cabeça, numa entrega linda, que ia ser inesquecível pra eles dois...

Ela pegou a tesoura pra desfazer as amarras, e enquanto cortada e liberava as pernas dele, passava as unhas pela parte interna das coxas, depois beijava, e mordia, e o via se  contorcer de prazer. Ele grunhia, gemia, e a cada gemido abafado mais ela lambia e beijava, e arranhava, prolongando indefinidamente essa tortura, ciente de que ele queria mais, e mais ela fazia. Depois soltou os braços, e fez com que ele deitasse, nu, de barriga pra cima, e tornou a prendê-lo pra poder fazer o que bem quisesse com aquele corpo de desse dia em diante, pertencia a ela. Observou cada músculo do seu corpo contraído, num misto de prazer e dor, e viu o quanto ele estava excitado. Aproximou-se dele, mordeu de leve o lóbulo da orelha e disse, em tom de ameaça “Se você gozar vai ser severamente castigado.”

Levantou- se da cama e pegou algumas velas que estavam presas ao chão. Passou a língua sobre seus mamilos, rígidos, e mordeu. Depois, se sentou devagar ao lado dele e começou a despejar a parafina derretida sobre seu peito desprotegido, e a cada gota ele se debatia, e urrava, e ela podia ver, por baixo da echarpe que lhe vendava os olhos, algumas lágrimas. Pra ela, isso era como uma medalha, porque sabia que ele suportava tudo aquilo porque queria estar ali. Soltou seus braços e fez com que ele sentasse, então, se sentou sobre ele e colocou sua cabeça entre os seios dela, pra que ele sentisse o perfume que iria povoar suas memórias por muito tempo. Depois, soltou seus pés, e, se apoiando no encosto da cama, fez com que ele recostasse sobre o corpo dela, e então derramou sobre ele um óleo perfumado e cuidou de cada pedaço daquele corpo que tinha sido entregue a ela de uma forma tão voluntária e perfeita, esperando que ele retribuísse com a massagem que tanto havia prometido.

Cada toque dos dedos dele no corpo dela geravam eletricidade. Os ombros, o pescoço, a nuca, as costas, ele, mais do que ninguém, sabia onde tocar e o que fazer. A tensão, a agressividade, a intensidade daquela mulher que há pouco o machucava, foram se dissipando e transformando em carinho, e ela se virou pra ele, o olhou dentro dos olhos, afinal, a dominadora se fora, e lhe beijou ternamente o rosto. Eles se abraçaram em um abraço infinito e aconchegante, levantaram da cama e, enquanto ele se vestia, ela fumou mais um cigarro. Então, eles bateram a porta, desceram e de despediram, em mais um longo e lento abraço, daqueles que não dá vontade de se soltar, e disseram, juntos: “Te vejo no skype!”

No reino da Morgana

Quantas noites em claro são necessárias pra admitir a necessidade que temos de alguma coisa? No meu caso, muitas. Na verdade, anos de noites em claro, me perguntando se o que eu sentia era fruto da minha imaginação, e das minhas lembranças, ou se era realmente algo inerente à minha natureza, do qual eu nunca iria conseguir fugir...

Minha primeira experiência com dominação aconteceu bem cedo, e escolher de que lado do chicote eu queria estar, foi por acaso. Meu namorado à época pediu pra amarrar as minhas mãos, a título de dar uma apimentada na relação. Eu, que tenho uma personalidade forte, perspicaz, controladora e autoritária, por natureza, ingenuamente cedi a esse pedido... Foram os minutos mais longos da minha vida, e uma agonia que parecia infinita tomou conta de mim. Estar ali, frágil, submissa às vontades de outra pessoa, que me comandava, que ditava meu ritmo, foi, pra mim, um sofrimento. "Não gostei, me solta", foram as únicas palavras que eu consegui falar. Mas senti uma vontade quase irresistível de fazer o inverso, prender as mãos dele, comandar, e fiz a proposta...

No momento em que me vi amarrando suas mãos na cabeceira da cama, eu percebi que era aquilo que eu queria fazer, desde sempre. Era aquela relação de poder que me excitava, era a vulnerabilidade do outro, era comandar com os olhos que fazia meu coração bater muito, mas muito mais forte. Não me parecia estranho, errado, nem nenhum desses adjetivos que a gente vê por aí, quando se trata de BDSM (o famoso acrônimo para Bondage/Disciplina - Dominação/Submissão - Sadismo/Masoquismo). Parecia eu. E ERA eu.

Me descobrir sádica foi um pouco mais complicado... Por mais que eu tenha uma cabeça aberta, livre de preconceitos, de rótulos e convenções, perceber que infringir dor à alguém te dá prazer, pode ser de pirar em alguns momentos. Explorar o limite, a degradação e as misérias de outra pessoa pode parecer realmente doentio, e pra não ultrapassar a barreira entre o prazeroso e o patológico, eu comecei a criar as minhas próprias regras. Isso moldou muito a Domme que sou hoje, e, parafraseando uma pessoa que caiu de pára-quedas na minha vida pra fazê-la girar 180º, me tornou "lúdica".

Bom, mas antes, muito antes dessa pessoa surgir, eu me casei. Há quase dezesseis anos atrás... Meu casamento foi um divisor de águas na minha vida. Eu queria ser mãe, eu queria sossegar, eu queria poder repousar meu coração inquieto e a minha cabeça, atormentada, no colo de alguém. E naquele momento, eu aprendi uma coisa que jamais havia feito na vida: CONCESSÕES. É extremamente complicado, doloroso até, pra alguém acostumado a comandar, abrir mão dessa sensação de poder. Mas eu abri, em nome de tudo o que eu mais queria na vida, e aprendi a ser feliz, mesmo que a felicidade tivesse sabor de baunilha ;)


Sempre fui insone, noturna, e durante todos os anos do meu casamento, de vez em quando, eu arriscava deixar a loba colocar um pouco as unhas de fora, e ia bater papo na internet. Algumas noites me divertia, outras me frustrava, numas achava graça e em outras eu tinha nojo... Achava que ou eu tinha virado baunilha de vez ou a galera tava muito pirada, e não gostava daquilo. E sempre pulava fora. Até que um belo dia, encontro no chat um "menino", dez anos mais novo que eu, com o nome de SubNovo27. Ele me deu boa noite, e engrenamos um papo muuuuuuuito bacana, que explicitava que nós dois tínhamos tanta coisa em comum que valia a pena dar uma esticada pro skype e continuar o papo.


Mal sabia eu que mais madrugadas insones estariam por vir. O que ele tinha que depois de tantos anos, eu já pensava de novo (e de novo, e de novo...) em dominar alguém? Que tipo de consequencia isso ia trazer pra minha vida, porque eu jamais havia dominado alguém com quem eu não tinha intimidade sexual. Dúvidas, tantas, que parecia que eu nunca tinha feito isso, mas ele conseguiu me fazer ultrapassar uma por uma, até tomar a decisão de que se ele queria ser dominado por mim, eu iria dominá-lo.

Dominação, pra mim, não é unilateral. Leio fóruns, vejo blogs, e, quase numa totalidade absurda, vejo dominadores tratando seus submissos como lixo. Dominadores que dizem que se quisessem realizar desejos de alguém seriam submissos... Acho isso triste, e absurdo, porque pra mim, o submisso é alguém que tem que ser cuidado. Ainda ontem falei com ele sobre isso, e afirmei a minha convicção de que o submisso gosta mais da ideia de estar sendo castigado do que da dor em si, e isso ainda é um assunto delicado entre nós... Ele é, segundo sua própria definição, "soft", e eu, "hard", mas ainda temos que aprender a andar antes de correr nessa estrada (ele odeia essa frase que eu vivo repetindo!!). O submisso tolera pela fantasia, aguenta pelo desejo de satisfazer. É uma entrega linda. O olhar de medo, de menino assustado, o corpo vermelho, e a obediência depois, compõem uma cena maravilhosa, que só quem é dominador, entende o que eu tô falando.

Muito provavelmente, só ele e eu iremos ler esse blog. Estamos nos descobrindo, amadurecendo a ideia, e eu, desempenhando o papel mais importante dentro dessa nossa história, que é conquistar a confiança dele. Sinto uma necessidade real e verdadeira dessa entrega, que é uma troca, e eu quero muito fazer valer a pena.

Pra você, D. Com carinho e umas boas palmadas na bunda,

Morgana