segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Permita-me surpreendê-la

Aquela tinha tudo pra ser uma sexta feira como outra qualquer, a não ser pelo sonho que a havia despertado, agitada, ofegante e molhada – e não era só de suor... Uma inquietação tomou conta dela, e aquela agitação crescia, até que ela se levantou da cama, tomou um banho e começou a se preparar pra ir trabalhar. O dia seria cheio – experimentos, alunos, artigos científicos, mas mesmo sem entender bem o motivo que a levava a abrir uma gavetinha especial, ela pegou a maletinha que guardava com expectativa praquela ocasião mais que especial, e a colocou dentro da bolsa.

O dia transcorreu dentro da normalidade, mas a inquietação não a deixou em paz. Fazia muito tempo que não falava com seu “eleito”, e na verdade, achava que tudo o que ambos haviam alimentado durante todos aqueles meses, nunca sairia do papel. Até que num dado momento da tarde ela foi presenteada com as suas rosas virtuais, que deixavam seu dia sempre mais alegre. Mas aquele dia era diferente. Era O DIA. Ele, que sempre havia prometido surpreendê-la, perguntou, com sua alegria natural de menino, se ela tinha programado algo pra noite, porque finalmente, essa noite seria a noite deles...

Todas as coisas que haviam dito, todas as conversas densas, cheias de sensações, passaram pela cabeça dela numa fração de segundos. “Não, to livre hoje”, foi tudo o que conseguiu responder. Combinaram meio que às pressas o horário que se encontrariam e o local, e incrivelmente, toda a ansiedade que dominara seu dia, desaparecera. Era a Domme que começava a aflorar e fria, metódica e racional, analisava todas as coisas que precisavam ser feitas pra que a noite fosse inesquecível pra ambos.

“Merda! Não tenho nada aqui pra decorar o nosso cantinho, mas pelo menos trouxe meus brinquedos.” E, naquele momento, se deu conta de que ele estivera presente a noite inteira no sonho que a acordou pela manhã, e acreditou, mais uma vez, que esse menino estava mesmo predestinado a fazer com que as coisas acontecessem – desse certo ou errado – e que a afinidade deles era mesmo perturbadora...

Antes de chegar ao local combinado, comprou umas coisas, meio que de improviso, e correu pra chegar meia hora antes, pra dar tempo de preparar tudo. Não tinha sido exatamente como ela havia imaginado, mas afinal, que graça tem a vida se não tiver adrenalina e improviso?

Quando ele finalmente bateu à porta, ao contrário de tudo o que havia planejado, ela não conseguiu deixar de sorrir pra ele, e lhe dar um longo e aconchegante abraço. Parecia que tudo havia conspirado pra que o encontro deles fosse natural demais, sem as obrigatoriedades de contratos e regras. O abraço e o perfume dele rapidamente acenderam todos os alertas, e ela rapidamente assumiu o papel que ele esperara por tanto tempo. Abriu lentamente cada botão da camisa dele, olhando-o nos olhos, o mais profundo que pode, tentando ler os seus sinais. Quando ela jogou a camisa no chão, o corpo dele já mostrava, na tensão de cada músculo, nas pupilas dilatadas, na respiração ofegante, e, óbvio, dentro das calças, que ele estava mais do que pronto pra se entregar a ela.

Eles, que já haviam repassado roteiros e fantasias mais de um milhão de vezes, se deixaram levar por toda aquela atmosfera... Música, vinho e velas (que ela havia conseguido na última hora), deram os tons da noite. “D., vc sabe o que eu quero de você”, ela disse, com a voz firme e doce, sem deixar por um minuto sequer, de olhar fundo nos olhos dele. “Sim, senhora”, ele respondeu, com aquela voz grave, meio rouca, que a deixara enlouquecida por mais de uma vez. E se ajoelhou, de calça, sem camisa, baixou a cabeça em reverência à sua dona, e estendeu, timidamente, as mãos para serem amarradas por ela.

Ela tirou da maletinha uma corda pequena, vermelha, já preparada num nó de forca. Colocou-se bem à frente dele, passou a mão pela nuca, e segurou o cabelo, já molhado de suor, encostando a cabeça dele no seu umbigo de forma que ele, ajoelhado, pudesse sentir seu perfume doce, e seu cheiro de mulher. Ele, obediente, com as mãos esticadas, não disse uma palavra. Ela colocou as mãos dele dentro do círculo que o nó formava, e puxou, prendendo com força, impedindo-o de tocá-la de qualquer forma.

Naquele momento, parecia que o tempo havia parado pra presentear, submisso e dominadora, com a beleza daquele quadro. Ele, excitado demais pra conter os gemidos, olhava pras próprias mãos, meio que sem acreditar que finalmente estava acontecendo. Os olhos dela brilhavam, ao observar o contraste da corda vermelha com a pele branca dele, e a entrega, que ela começava a presenciar e tinha certeza de que ainda era mínima, que muitos limites seriam rompidos naquela noite...

“De pé, D.”, ela ordenou, e foi prontamente obedecida. “Agora, dê o seu jeito de tirar a calça”. Ele, com os olhos baixos, mexia os pulsos, tentando afrouxar um pouco a corda, enroscava nervosamente os dedos, enquanto ela andava ao redor dele, passando o chicote pelo pescoço e peito, nuca e costas, e, pra aumentar ainda mais a tensão dele, vendou-lhe os olhos. “Agora você vai contar até dez comigo. Se não conseguir tirar essa calça, vai começar a contar as chicotadas. Um, dois, três, quatro...” Obviamente que ele não foi feliz na primeira tarefa, e ela não sabia, na verdade, se havia sido sem querer ou de propósito, mas não fazia diferença, pois chegara o momento que castigar aquele submisso rebelde que sequer sabia se despir. “Pode começar a contar”, e quando ele disse “um” ao mesmo tempo ela ouviu o chicote estalando nas costas dele. O castigo durou até a sexta chicotada, quando ele finalmente conseguiu, suado e ofegante, tirar a calça.

A visão daquela samba canção preta, que ela parecia já conhecer de longa data, contrastando com a pele já mais vermelha que branca, nas costas e nos punhos, nublou, por um momento o julgamento da dominadora. Ela também já estava excitada demais com tudo o que via, sentia e tocava, cada detalhe despertava nela uma vontade de tocá-lo, de lamber cada pedacinho das costas dele que ardia, mas ela sabia que muito ainda os aguardava. “D., você sabe que merece ser castigado, não sabe? Você tem sido rebelde, relapso, e, principalmente, tem ditado muitas regras até aqui.” Como não restasse mesmo outra alternativa, ele respondeu, baixinho “Sim, senhora. Perdão, senhora”. Mas ela estava mesmo determinada a fazer com que ele aprendesse a ser o submisso que ela queria que ele fosse. “Eu disse pra você durante todo esse tempo que aqui, trancado comigo, você ia aprender a ser submisso de verdade. Ajoelha.”

Ele se ajoelhou novamente, amarrado e vendado, e quando deu por si ela já havia passado pelo pescoço dele o cinto, e puxava, como se fosse uma coleira. Sentiu que ela se afastava, e ouviu um barulho de saco plástico, o que foi suficiente pra que ele começasse a pedir, por favor, pra que ela não o sufocasse. “Cala a boca, escravo. Eu não quero ouvir a sua voz, e se você me desobedecer, o castigo será ainda mais dolorido!”

Como ele não parava de resmungar e choramingar, ela pegou a mordaça e, segurando o rosto dele pelas bochechas, o forçou a abrir a boca. Ele se debatia, tentava resistir, e falava, implorava e choramingava, e aquele jogo entre a caça e a caçadora fazia aumentar o desejo que os sufocava. Por fim, ela conseguiu colocar a mordaça em sua boca, e puxando com força, prendeu bem preso atrás da cabeça. Deu dois tapas de leve no rosto dele. “Ca-la-do”, falou, pausadamente. “Agora você vai ser conduzido até o cantinho do castigo, e vai ficar por lá até aprender como deve tratar a sua dona. Você tem sido indolente, folgado, imprestável e eu tive paciência demais com as suas vontades. Agora chega.”

E o levou até um canto do quarto, puxando pelo cinto e ele ficava ainda mais bonito se arrastando, desengonçado, mudo e cego, amarrado e choramingando. Ela mexeu novamente no saco plástico e pode sentir o arrepio que percorreu o corpo dele. Puxou carinhosamente os cabelos molhados dele, se aproximou do ouvido e disse pra ele ficar calmo. Perguntou se ele confiava nela e ele assentiu, e então pode ouvir o barulho de alguma coisa sendo espalhada pelo chão.

Ele não conseguiu ver o que era, mas pode sentir os joelhos sendo esfolados pelo que pareciam ser pedrinhas. Então se lembrou de uma conversa que tiveram sobre castigos, em que ela havia mencionado que o colocaria de joelho sobre pedrinhas de aquário. As lágrimas já escorriam, involuntariamente, dos olhos dele, molhando a echarpe de seda que ela usara pra vendá-lo. “Você sabe por que está de castigo, D.?” Ele balançou a cabeça em negativa, e sentiu que ela se colocava atrás dele, e pode sentir também as cerdas frias do chicote. “Não? Você não sabe? Vou te dizer alguns motivos, então.”

As pedrinhas ralando o joelho dele, o chicote roçando as costas, foram tornando crescente e quase insuportável o desespero dele. “Bom, pra começar, você me deixou esperando por você mais de uma vez, e isso é inadmissível pra uma Domme. Você acha isso certo, D.?” Ele fez que não com a cabeça e ela disse, cinicamente, que já que ele havia admitido seu pecado assim, tão facilmente, que a chicotada ia ser leve. Mal deu tempo pra ele assimilar essa informação, tamanha aflição que as pedrinhas provocavam, e sentiu a chicotada nas costas.

“Em segundo lugar, você tem se comportado como um menino mal-educado. Não se despede da sua dona, simplesmente desaparece quando estamos conversando, e isso me irrita demais. Você pretende repetir isso, daqui pra frente?” Ele fez que não, mais uma vez, mas ela resolveu achar que ele tinha hesitado algum tempo antes de responder. “Por causa da sua indolência, você vai apanhar de novo, e não se esqueça de me agradecer.”

Mais uma chicotada, lágrimas escorrendo, pedrinhas machucando os joelhos, a perna inteira, dor, sofrimento, e humilhação. Era realmente aquilo que ele viera buscar? Por mais que ele negasse, o corpo não negava o desejo. Ele estava excitadíssimo, quente e latejante, preso naquela samba canção, e sabia que precisava suportar tudo aquilo pra alcançar a redenção só ela podia dar. O poder que ela exercia sobre ele era soberano, ele poderia simplesmente fazer o gesto de segurança que tudo pararia, mas não queria, ele precisava ter os seus limites rompidos por ela pra usufruir de todo o prazer que ela podia lhe dar.

“Por fim, D., o seu pecado mais grave: despertar esse tesão perturbador em mim. Inicialmente eu nem tocaria em você, e abri essa concessão porque imaginar a sua pele, branca, adornada por essas cordas vermelhas, dentro dessa samba de seda preta, me deixavam fora de mim. E os dias foram passando, e você com todo esse seu jeito de bom moço foi me provocando, provocando, até que eu percebi que sentiria necessidade de ser tocada por você. Nós conhecemos os limites rígidos um do outro, e quando eu dei por mim, tinha que escolher entre meu limite e o meu desejo. Isso foi uma falta grave e você tem que responder por ela.

Ele, exausto e dolorido, meneou a cabeça no que pareceu ser um sim. Ela pediu que ele se sentasse, o que lhe deu certo alívio, pois não havia sinal do chicote nas costas, mas ao mesmo tempo, como ela havia dito que esse era seu pior pecado, ele temia pelo que viria pela frente. Mal deu tempo de perceber que ela o estava deitando, com as costas já marcadas pelo chicote, sobre as incômodas e dolorosas pedrinhas de aquário...

Ardia. A vontade que ele tinha era de gritar, correr, bater nela até, quando ela disse que o sal das pedrinhas ia ajudar a cicatrizar as costas. “Porra, que dor!” foi tudo o que conseguia pensar com clareza, porque ao mesmo tempo em que quase se arrependia de estar ali, uma força muito maior do que ele o impelia a ficar. Quanto mais ele se debatia, e resmungava, mais doía, e aos poucos ele foi percebendo que o quanto antes se rendesse, a dor cessaria. Sentiu que ela se aproximava dele, sentada no chão e apesar do medo, uma onda de tranqüilidade tomava conta dele “São, seguro e consensual. Eu posso fazer com que ela pare a hora que eu quiser. Mas... eu não quero.”

Ela tirou a mordaça de sua boca sob a promessa de que ele não gritaria. Soltou a echarpe de seda que lhe cegava, e ficou, de frente pra ele, esperando q ele se sentasse. Chegou a rir da cara de dor que ele fez quando se sentou, e percebeu que as malditas pedrinhas lhe estavam grudadas nas costas. “Levanta, eu vou soltar as suas mãos porque agora eu preciso de você de quatro, de cachorrinho, andando por esse quarto.”

Quando ele ficou de pé, ela deu mais uma volta ao redor dele, e tirou, pedrinha por pedrinha, das costas dele. Cada marca daquela representava o mundo deles dois, a entrega, a submissão, a capacidade de suportar dor e humilhação por prazer, os limites, a confiança, e enquanto pensava nisso, mal se dera conta de que estava beijando as costas dele, passando a língua, quente e ágil, desde o bumbum até o pescoço, e abraçando-o por trás, passava as unhas pelo peito e pela barriga dele, até o elástico da samba, que puxava, provocante, deixando à mostra a prova de que a brincadeira deles era séria... Ficou de frente pra ele, na ponta dos pés, e puxando-o pela nuca, o beijou. Ele abriu a boca e retribuiu passando a língua nos lábios dela, deixando-a ainda mais excitada. Ela cravou as unhas no pescoço dele, e eles se beijaram, sabe-se lá por quanto tempo, as línguas se entrelaçando, chupando, mordendo, as mãos amarradas, inertes, sem poder tocar nela, e por um momento foram apenas homem e mulher, não dominadora e submisso. Só que ambos sabiam o que queriam um do outro, e cabia a ela conduzi-los ao êxtase, e assim foi feito. Ela respirou fundo, mordeu-lhe os lábios, e lambeu toda a extensão do corpo dele, da boca até os joelhos esfolados, passando por “ele”, indócil dentro da samba canção, e dando uma mordidinha de leve sobre o tecido. “Ainda não chegou a hora de tirar com o dente. Agora eu vou soltar suas mãos e você vai ficar de quatro, meu cachorrinho.”

A simples lembrança dos joelhos sobre as pedras lhe provocava arrepio, mas ele sabia que tinha ordens a cumprir. E se colocou à frente dela, de quatro, cabeça baixa, esperando o cinto que lhe servia de coleira, mas não foi o que ela passou em volta do pescoço dele, era uma coleira mesmo. “Vem que eu vou te mostrar no espelho como você é um cachorrinho lindo.” E foi puxando-o até um espelho de corpo inteiro, que mostrava a mulher de pé ao lado dele, vestida com uma blusa preta transparente que deixava quase à mostra os seios bem guardados na lingerie de renda também preta, com um olhar frio, impassível, mas ao mesmo tempo transbordando de desejo por ele. Atordoado por se ver ali, humilhado por ela, que o aproximava do espelho, ele finalmente entendeu o que ela pretendia. E lia, em letras prateadas na coleira preta, o nome dela. MORGANA.

Ela ordenou que ele ficasse de joelhos e, sussurrando, disse no ouvido dele: “Agora você é meu, D. Definitivamente meu. Sou eu quem vai te prender, te soltar, ou não. Sou eu quem vai te lamber, te morder, te beijar, te excitar, levar você ao limite, e deixar você gozar, ou não. Sou eu quem vai bater, mas também, sou eu quem vai curar a sua dor. Você é meu, e vai ser a cada dia mais, até que eu não vou precisar mais de amarras pra dominar você. Você vai se submeter pelo simples prazer de ser meu submisso.”

Ele se olhava no espelho e não acreditava no que via, nem no que ouvia, mas menos ainda no que sentia. Sentia-se humilhado, ridículo, de cueca samba canção, todo ralado, de coleira com um nome fictício que o impedia de se mover, como se estivesse preso com correntes. Via a mulher ao lado dele, baixinha, gordinha, de simpáticos olhos cor de mel que num passe de mágica se tornavam frios como gelo, com os cabelos pretos caindo sobre a tatuagem que tinha no ombro, via seus piercings brilharem no espelho e não acreditava que quanto mais irracional isso parecia, mais queria estar ali, com ela, e ser submetido aos caprichos dela. E percebeu que havia mergulhado com ela tão fundo, que já não podiam mais emergir...

“D., acorda! Você é realmente um submisso imprestável e sonhador. Disperso e indolente, mas eu vou cuidar disso. De joelhos, porque agora você vai venerar os meus pés.” E mais uma vez ele sentiu a dor e a lembrança das pedrinhas voltou a incomodar “Inferno! Que horas ela vai me amarrar? Ela sabe o quanto eu quero isso, mas eu também sei que quem manda aqui é ela. Merda!”

Colocou-se de frente a ela, reverente, e tirou bem devagar o sapato preto de salto que ela usava. Beijou-lhe os pés delicadamente, acariciou os dedos, lambeu um a um, e percebeu que gostava disso. Repetiu o ritual com o outro pé, sugando-lhe os dedos, louco de tesão, quando ela colocou os pés sobre o colo dele, assustado, se retraiu. “Calma, eu não gosto de CBT, você sabe disso. Eu só vou fazer um carinho em você com os pés.” E dito isso, começou a masturbá-lo, com os pés, sobre a cueca de seda. Ele jogava a cabeça pra trás, e arfava, o corpo se contraía e quanto mais ela olhava pra ele, mais gostava do que estava vendo. Ele transpirava desejo por todos os poros, e com ela não era diferente. De repente, ela parou de acariciá-lo e ficou de pé, pegou uma garrafa de vinho que esperava por eles, abriu e despejou sobre os seios, e deixou escorrer até as pernas. Colocou a venda nos olhos dele e disse: “Lambe, D. Eu quero ver o que você sabe fazer pra dar prazer à sua Domme, mas você ta proibido de me ver gozar. Pode começar!”

Ele abraçou as pernas dela e começou a sorver, gota por gota do vinho que ela havia derramado. Passava a língua sobre os pés dela, e subia, devagarzinho, até chegar aos joelhos. Deu meia volta e começou a beijar a parte de trás, porque sabia que ela gostava disso, subindo pelas coxas até chegar ao bumbum, e deu uma mordida de leve, afinal, ela era a dominadora e por muito menos poderia castigá-lo. Mas resolveu encarar a ousadia, e foi bem sucedido. Ela suspirou fundo e gemeu, indicando claramente que estava gostando, muito. Ele a virou de frente pra ele e começou a lamber a parte interna das coxas, sem deixar uma gotinha sequer de vinho escorrer. Parou quando chegou “nela”, porque não sabia mesmo o que fazer, o que ela esperava. Ficou de pé e abriu dois botões da blusa dela, e nesse momento ela pensou que ele nascera pra profissão que exercia, porque,mesmo sem enxergar, tinha talento com as mãos. Segurou de modo firme, e delicado, os seios dela e passou a língua sobre eles. E entre eles, e lambeu, e beijou, e mordeu, simplesmente porque não agüentava mais de vontade de gozar. Ele estava explodindo, e sabia que ia ser breve, e tinha que se segurar por causa dos castigos que viriam se ele gozasse sem a permissão dela.

Ela segurou o rosto dele, se aproximou mais uma vez do ouvido e disse: “Agora você vai tirar a minha calcinha, porque eu vou te amordaçar com ela.” Ele se abaixou devagar, segurou-a pela cintura e tirou, mais devagar ainda, a calcinha dela, que tinha o cheiro do perfume que ela usava. Estendeu a mão pra que a sua Domme pegasse a sua futura mordaça, quando ela o segurou pela nuca, do jeito que adorava, se sentou na cama, abriu as pernas e ordenou: “Me faça gozar”. E ele se aproximou, puxou-a pra beira da cama e enfiou o rosto entre as pernas dela, beijando, lambendo, chupando com força, e devagar, e a língua dele explorava aquele cantinho escondido que não estava, de jeito nenhum, no script pra ser explorado, mas, como já concordamos anteriormente, a vida é feita de surpresas e algumas podem ser muito boas. E ela gemia, gritava, xingava e batia no rosto dele, e segurava o cabelo e fazia com que ele enfiasse a língua ainda mais fundo nela. E ele pode sentir o tremor das suas pernas, ouvir os seus gemidos e sentir o seu gosto, quando ela disse: “D., gozei.”

Ele havia finalmente aprendido a ser um bom submisso, e merecia sua recompensa depois de tanto sofrimento e todo prazer que havia dado a ela. “Senta ali, naquela cadeira, e põe os braços pra trás.” E ele caminhou, ainda extasiado, tateando as paredes, vendado e impregnado pelo perfume dela, se sentou na cadeira e obediente, pôs as mãos pra trás. Ela pegou duas amarras de plástico e prendeu bem firme as mãos dele, e amarrou-lhe os braços com metros e metros de corda, pelos cotovelos - “Elbow bondage, amour” - e derramou sobre o peito dele um óleo perfumado. Prendeu os pés com mais duas tiras nos pés da cadeira e disse: “Por enquanto, chega de dor, mas abre a boca!”. Ele abriu a boca sem oferecer resistência, ela chupou a língua dele, com força, e deu uma mordida e disse, com a cara mais sacana do mundo: “Gosto bom”. Colocou a calcinha de renda em sua boca, enquanto ele se debatia, ensaiando a rebeldia, e ela pôs sobre os lábios dele quatro faixas de silvertape vermelha, pra combinar bem as cores. O som era abafado, mas ele gemia, e se contorcia sobre a cadeira, e ela começou a espalhar o óleo sobre o peito dele, e barriga, e passava as unhas, e ele jogava a cabeça pra trás, de novo, e ela sentia o corpo desfalecer vendo o quando ele estava excitado. Puxou um pouquinho o elástico da samba, e enfiou as duas mãos dentro da cueca de seda. O óleo fazia com que suas mãos deslizassem sobre “ele”, ágeis, quentes, e ela podia sentir o quanto pulsava, latejava, e sabia que ele estava muito, muito próximo do orgasmo: “Eu não deixei você gozar, D.”

Parou de tocá-lo, e tornou a lamber seu corpo. Ele se debatia, exausto, chorava, resmungava, porque já não suportava mais aquela tortura. Privação do orgasmo era demais pra ele, o deixava esgotado, irritado, agoniado, e quanto mais ele demonstrava essa insatisfação, mais ela provocava. E ela dizia ao pé do ouvido que queria mais lágrimas, mais gritos, mais desespero. Ela ria dele, debochava dos seus vãos esforços em se soltar. Disse que iria embora, que voltaria de manhã pra soltá-lo. Tirou a venda dele pra poder se deleitar com o medo nos seus olhos, e quanto mais ele chorava, mais impassível ela se tornava. Humilhava e torturava, sem elevar a voz. Dominado estava e dominado permaneceria, até que ela se cansou daquele espetáculo e cortou as tiras, ordenando que ele se deitasse de bruços sobre a cama.

Ele seguiu, derrotado, sem nenhuma esperança, e se jogou na cama, de bruços, Ele sentou sobre as penas dele e amarrou-lhe os braços pra trás, unindo aos tornozelos, em hogtied. Devia confessar pra si mesma que poderia ter um orgasmo só em vê-lo naquela posição. Imóvel, amordaçado e vendado, ela sentia a raiva que vinha dele, que ele não agüentava mais, e mais ela queria. Pegou as velas espalhadas pelo quarto e tornou a castigar as costas, o pescoço e a bunda. Jogava a parafina derretida na parte de trás das coxas dele, e ele gritava, e quanto mais ele se contorcia, mais ela derramava, bem devagar.

Esse tormento levou minutos incontáveis, até que ela deitou ao lado dele na cama, e ficou em silêncio até ele parar de chorar, de gritar e se debater.  Quando ele se acalmou, ela chegou bem pertinho, desatou os nós que o prendiam e puxou o seu menino pro colo. Ele, vendado e amordaçado, dolorido, se jogou, exausto sobre os seios dela. Ela pegou mais um pouco de óleo, e passou no corpo dele, nas costas, com cuidado, nas pernas, nos ombros, massageando, beijando com ternura, até, e pediu pra que ele se deitasse de barriga pra cima. Afastou as pernas uma da outra, e os braços, e o prendeu em “X”, de leve, porque a essa altura ele já não esboçava nenhuma reação. Passou a língua nos mamilos dele, completamente arrepiados, e mordeu. Foi deslizando sobre o corpo dele banhado de óleo, e quando chegou na cintura, mordeu o elástico da samba canção. Foi descendo, devagar, observando a ereção dele, e todos os músculos do corpo que pareciam se contorcer ao mesmo tempo, até chegar aos pés, e jogou longe o short. Subiu lambendo as pernas dele, a parte de dentro das coxas, mordendo, enquanto ele tentava, falsamente, se soltar, porque a última coisa que queria naquele momento era sair dali. Começou a tocá-lo, devagar, e ele gritava alguma coisa incompreensível, mas que ela sabia que era bom. E ele suava, gemia, e ela aumentava o ritmo, segurando com as duas mãos, e diminuía a velocidade e segurava com mais pressão, e quando nenhum dos dois agüentava mais aquela atmosfera densa e sexual, ela passou a língua, e abriu a boca, e colocou-o, inteiro, até se sentir sufocada, e lambeu, chupou, sugou, passou os dentes de leve, deixando seu submisso ainda mais submisso às suas vontades, dominado pela sua especialidade, pelo que ela mais gostava – e sabia – fazer.

Alternando as carícias com as mãos e a boca, ela tirou a fita dos seus lábios, mais por capricho do que por compaixão, porque queria ouvir claramente os gemidos dele. Mas ele não deixou de se surpreender quando ela, mais uma vez chegou ao pé do ouvido dele e perguntou: “O que você quer de mim, D.?” Por uma fração de segundos ele teve dúvida do que responder, porque não sabia se tratava-se de prazer ou castigo, mas resolveu arriscar: “Eu quero...ver você”.

A dominadora calmamente tirou-lhe a venda dos olhos, e se colocou entre as pernas dele mais uma vez. Olhou o mais fundo que pode nos olhos dele e disse: ”Olha pra mim. Você vai ver tudo, agora” e mordeu o lábio, e passou a língua “nele”, percorrendo todos os centímetros que tinha pra dar prazer. Abriu a boca, e engoliu inteiro, de cima pra baixo, de baixo pra cima, e quanto mais olhava pro seu submisso, ora com os olhos fixos nela, ora fechados, jogando a cabeça pra trás e gemendo, mais ela aumentava o ritmo, e sabia o quão próximo ele estava de gozar nela, em seu rosto, em sua boca, sobre seus seios, e também sabia que essa seria a maior prova de submissão, mas DELA pra ELE, e por alguns instantes, isso a incomodou na alma. Mas também sabia o quanto ele havia suportado pra estar ali, o quanto ele tinha se dado pra ela, lembrou dos olhos dele no espelho admirando a coleira com o nome dela, e o quanto isso era uma troca. Percebeu que o dominaria pra sempre, se também se doasse pra ele. Olhou nos olhos dele e disse, baixinho: “Goza”. E ele fechou os olhos, lindo, jogou a cabeça pra trás e deu um último gemido, de prazer, de entrega, de tudo, e explodiu num orgasmo intenso, longo, e exausto, finalmente relaxou. Ela, extasiada pela beleza do espetáculo que acabara de assistir, levantou, devagar, e prendeu os cabelos negros, grudados no suor do seu pescoço e percorreu os quatro lados da cama pra lhe soltar, com cuidado, os pés e as mãos. Limpou o cantinho da boca, deu um beijo nele e fez carinho em seu cabelo. Deitou, ao seu lado, e em silêncio, pegaram no sono.

























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