Quando decidimos criar o Castelo BDSM, a minha primeira ideia de artigo foi “a
construção do submisso pela visão do dominador”. Ideia prontamente aceita e
compartilhada pelos TOPs e bottoms do grupo, com a promessa de que Letty e Tha
escreveriam sobre o despertar do TOP pela visão submissa.
Meses se passaram, outros artigos vieram, e este, tão importante, tão sentimental, tão
porta aberta não saía… Até q as meninas resolveram dar uma chacoalhada e
escreveram o delas, o que deixou esta dominadora que vos fala em maus lençóis
Não me restou outra saída a não ser deixar o chicote de lado e sentar à frente do
computador pra expor a minha visão, a minha experiência sobre a construção de um
submisso. Sobre tudo o que faz dele importante pra mim como pessoa e essencial pra
mim como dominante.
Nestes vinte e um anos como dominadora, já tive submissos dos mais diversos. Dos
mais masoquistas aos mais soft, passando por aqueles q nunca foram, mas que
tentaram. Pra se satisfazer ou pra me satisfazer. E em todos eles, com mais ou menos
tempo, eu vi o mesmo olhar, os mesmos gestos. Ouvi os mesmos gemidos, os mesmos
sussurros. Vi algumas lágrimas caírem, vi outros chorando de soluçar, como uma
criança, agarrados às minhas pernas com a cabeça encostada nos meus joelhos. Vi
homens se tornarem meninos, vi meninos se tornarem meninas, vi gente marrenta e
abusada pedir perdão encolhido, em posição fetal, assim como vi pessoas pacíficas
levantarem os nariz pra mim, e dizer “não vou fazer” (mas, no fim das contas, fizeram).
Tenho em mim que a submissão, assim como a dominação, nasce com a gente. Em
detrimento daquele papo de “submisso de alma”, que um dia foi uma expressão séria,
mas de tanto mau uso acabou virando piada, é algo que está dentro de cada um, e nos
cabe desenvolver ou sublimar. Mas no momento em que decidimos desenvolver isso, é
um gatilho disparado que nunca mais deixará de ecoar.
Ver desabrochar um submisso é das coisas mais lindas da vida. Não é nada,
absolutamente nada fácil, numa sociedade machista e patriarcal, um homem ceder o
controle a uma mulher. Baixar a cabeça, os olhos, dobrar-se a ela. É muito mais que
dizer “sim, senhora”. É dar-se, inteiro e despido, de roupas e pudores, àquela q vai
comandar uma cena, uma sessão, ou a vida dele.
Homens naturalmente submissos talvez entrem na atmosfera de submissão com mais
facilidade. Mas ainda assim, existe uma certa resistência, porque ao contrário do que
acontece numa relação baunilha, não é apenas obedecer, ou ter suas vontades
ignoradas pela parceira. Numa relação D/s existe a obediência, óbvio, mas o que leva a
ela é algo muito maior. É a entrega, a confiança, a devoção.
Ver o submisso de joelhos, dobrado com um olhar meu, desperta sensações diversas,
intensas, marcantes… É o meu poder sobre ele, fui eu quem fiz aquilo acontecer.
Retribuo. Deixo que percebam o quanto sou grata por isso. Olho nos olhos, para que
vejam que o que eu quero foi o que eles vieram buscar. E no fim das contas é
exatamente isso. Uns vêm pela dor, outros pela degradação, alguns pela dependência.
Mas todos, absolutamente todos, vêm a mim pelos seus prazeres.
Em muitos olhos eu vi amor, paixão, tesão… Em outros, vi angústia, desespero e raiva.
E todos, sem exceção, fizeram os meus brilharem. É engraçado como alguns
comportamentos sofrem metamorfoses depois da porta fechada. Se colocar de joelhos
incomoda, mesmo aos mais submissos. Alguns o fazem instintivamente, outros
precisam de um estímulo maior. Mas quando percebem o quão importante é esse ato,
a coisa começa a fluir com mais facilidade.
Pra alguns dos submissos que já tive, servir foi, por muito tempo, uma coisa
angustiante e tortuosa. E aos poucos, com carinho, atenção, firmeza, mostrando passo
a passo desse ritual, a importância desses pequenos gestos, eu vi nascer o submisso. O
homem que outrora relutava em dobrar-se, naquele momento já deitava aos meus pés
e dizia “faça o que quiser, minha senhora”. Mas chegar a esse ponto é uma tarefa
árdua, pq vem imbuída de muita, muita confiança. É abrir mão do que se é, do que se
acredita, do que se quer ou não quer fazer, em prol de alguém que vai conduzir o seu
corpo, suas emoções dali por diante.
O momento mais sublime pra um dominante é ver o seu submisso abrir mão do que
não quer. Deixar de fazer ou receber algo que gosta é infinitamente mais fácil que
suportar (e aqui defino suportar como ter prazer, gostar, gozar com) algo que não
gosta. Todo início de relação D/s ou SM é permeado por uma negociação acerca dos
limites, principalmente do bottom, mas também do TOP. É preciso que o dominante
informe ao submisso o que não pratica, pra não gerar expectativas vãs. E quando os
meus submissos me expuseram, ao longo de todo esse tempo, os seus limites, sempre
ouviram de mim a seguinte afirmativa: “Uma coisa é eu não fazer porque você não
quer. Agora, se eu vou levar você a querer isso, é outra, bem diferente.”
Sim, os submissos são manipuláveis. Especialmente quando se dispoem a fazer as
nossas vontades… é tudo uma questão de saber moldar, de saber tocar no ponto
certo, de saber explorar cada fraqueza. Quando o dominante consegue perceber essas
nuances (não que seja fácil), tem em suas mãos o brinquedo preferido. O que vai
aceitar, com reverência, todas as suas vontades. O que vai ter prazer, muitas vezes,
apenas em agradar, mesmo sem ser agradado. O que vai tornar o dominante o centro
do seu universo, e viver pra ele, e por ele.
Muitas vezes, é questão de saber recuar. Quantas, incontáveis vezes eu abri mão de
uma coisa que queria muito pra poder colher os frutos desta confiança, revertido em
entrega total e irrestrita lá na frente… Quantas vezes precisei colocar no colo e dizer
“tô aqui com você”, pra me tornar absolutamente necessária tempos depois. E
quantas vezes me diverti, quando fingia que não percebia o submisso querendo jogar
comigo, dizendo não quando na verdade queria dizer “sim, eu imploro”.
São meus brinquedos prediletos, confesso. Adoro ouvir aquele “minha senhora”, vindo
de dentro, das entranhas. Quero-os inteiros pra mim. Quero o corpo pra brincar, mas
quero muito mais que isso. Quero tudo, quero a respiração deles no ritmo da minha.
Quero que se reconheçam como parte de mim, e que isso seja, pra eles, a coisa mais
importante do mundo.
Por mais que eu escreva páginas e mais páginas, acho que jamais conseguirei explicar a
beleza (e muitas vezes a dor) do nascimento de um submisso. Tenho milhares, milhões
de lembranças pra exemplificar o que seria esse “desabrochar”. Mas vou terminar aqui
com a mais recente, e uma das mais bonitas, que foi ouvir, do meu atual submisso,
depois de me assistir numa prática que é limite pra ele, as seguintes palavras “a
senhora pode tudo o que quiser, porque eu confio em você, e te amo”.
Se foi fácil pra ele dizer isso, tenho certeza de que não. Mas mais difícil ainda foi ele
SENTIR isso. Sentir que estava acontecendo exatamente o que eu disse que
aconteceria, e ouvir a minha voz ecoando dentro dele: “eu vou levar você a querer
isso”. E nesse momento, embora ele já fosse meu há muito tempo, eu pude olhar nos
olhos dele e dizer, com toda certeza “nasceu o meu submisso.”
Esse é um dos melhores texto que eu já vi. Um dia espero ser dominado assim, não só o corpo mas a mente.
ResponderExcluirO SM faz a gente se despir e não é a roupa, é algo mais.
Bruno Sub
Obrigada, Bruno. E desculpe responder tardiamente, pois não vi seu post. Espero que continue seguindo e curtindo o blog. Seja sempre bem vindo.
ExcluirObrigada, Bruno. E desculpe responder tardiamente, pois não vi seu post. Espero que continue seguindo e curtindo o blog. Seja sempre bem vindo.
ExcluirOlá SRA., Maravilhoso o Texto de Uma RAINHA tão MARAVILHOSA como a SRA.!!! Quem sabe um dia poderei Servi-lá, ser DOMINADO e USADO pela SRA., para o Seu Bel Prazer.!!!
ResponderExcluirGrata pelas palavras :)
ExcluirE a SRA., me conhece, pouco mas conhece. sub rob
ResponderExcluirDe onde?
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