domingo, 25 de outubro de 2015

As responsabilidades do TOP com a sua posse



Dominadores são amados. São adorados, idolatrados... Tornam-se referência, tornam-

se dependência. Somos nós quem muitas vezes norteamos uma vida inteira, em todos 

os aspectos, daqueles que nos pertencem.


São exigidos do dominador pulso firme, segurança, determinação, liderança... Somos 

cobrados porque temos que ser os mais incisivos, os mais altivos, os mais arrogantes, 

muitas vezes. Somos detentores do poder, fazemos o que queremos, ainda que 

consensualmente, mas pouco nos é cobrado responsabilidade. Até existe uma certa 

vigilância com as responsabilidades das práticas. Tudo tem q ser consentido, e 

observados os riscos e toda a história que conhecemos. Mas hoje, eu quero falar das 

responsabilidades emocionais com os bottoms. É sobre essas responsabilidades, que 

quando negligenciadas causam as maiores feridas, que eu vou falar.


Tenho algumas frases bem clichê sobre submissos, por exemplo. Costumo dizer que 

submissos são jóias raras que precisam ser lapidadas, e guardadas em local seguro. 

Digo, aliás, repito muitas vezes, que a minha percepção sobre os submissos é a de que 

são as pessoas mais fortes da face da Terra. É preciso ser muito forte pra se submeter 

a alguém. Se desprender, ter confiança. É preciso ser muito forte pra se entregar 

voluntariamente a alguém que terá RESPONSABILIDADES sobre sua integridade física, 

e EMOCIONAL.


Ditas as minhas impressões sobre os dois protagonistas desta história, quero expor a 

minha visão pessoal do que é ter responsabilidade. O dominante ensina, adestra, 

transforma... ele faz nascer ou desabrochar o submisso. É pelas mãos dele que a dor é 

infligida. Mas, e o contraponto disso? O que ele faz com tudo aquilo que transformou? 

A mão que machuca é a mesma que deve acariciar. Não se pode negar ao submisso a 

certeza de que ele é amado, de que ele é importante, de que ele é único, mesmo numa 

relação não exclusivista. Não se pode negar ao submisso o conforto do afago, o abraço 

pra deixar que as lágrimas escorram ou pra consolar por todas as que foram 

derramadas. Não se pode negar ao submisso a paixão de ver o seu dominante por 

inteiro, com o corpo pegando fogo de desejo que ele, submisso, despertou.


Responsabilidade emocional com a sua posse é dar CERTEZAS a ela. O jogo psicológico 

muitas vezes nos leva a promover ao bottom uma enxurrada de insegurança, e vocês, 

bottoms que estão me lendo agora, conformem-se com isso (risos). Nós sempre 

deixaremos vocês na corda bamba, andar ao nosso lado é como estar vendado o 

tempo inteiro... Vocês podem até saber que estamos planejando algo, porque 

geralmente nada conosco é simples como parece, mas vocês nunca saberão o que é 

até serem tocados. Isso é o jogo de dominação, de poder, e nenhum dominante abre 

mão dele. Porém, existe o momento em que o jogo termina, e nesse momento, a 

nossa responsabilidade é dar a vocês a certeza de que são parte de nós. E ser parte de 

nós implica em não ser descartado, abandonado, jogado fora como um objeto que não 

tem mais serventia. 


Responsabilidade emocional é dar à sua posse, AMOR. Aí vocês podem parar e se 

perguntar: “E a dominação, onde fica? O TOP que demonstra amor não demonstra 

fraqueza?” E eu vos respondo: Não. O TOP que demonstra amor é aquele que vivencia 

a sua relação por inteiro. Que não se esconde atrás de uma máscara de hostilidade pra 

promover o respeito pelo medo. O dominante que demonstra amor à sua posse é 

aquele que não está mais preocupado em provar nada pra ninguém, ele quer apenas, 

Quero deixar muito claro aqui que não estou falando de amor romântico, aquela coisa 

de colocar o bottom numa cama coberta de pétalas de rosas (embora seja uma 

imagem extremamente excitante) e ouvir canções de amor. Estou falando de entrega. 

Não é só uma prerrogativa do submisso entregar-se, o dominante também deve fazê-

lo. Se permitir, e usufruir de uma relação de reciprocidade que certamente vai ser 

retroalimentada por confiança, generosidade e intimidade.


Responsabilidade emocional é CAMINHAR JUNTO. Ensinar ao bottom como se 

comportar, dentro e fora das quatro paredes. Isso não significa, necessariamente 

imiscuir-se em aspectos de sua vida “baunilha”, mas tudo, absolutamente tudo que 

diga respeito a uma relação D/s, códigos e condutas dentro do BDSM, devem ser 

explicados CLARAMENTE ao seu bottom. Ora, não há injustiça maior que punir alguém 

por um erro que não sabia estar cometendo. Se você TOP, quer cobrar, dê ao seu 

bottom subsídios para ser cobrado. O que fazer dentro de uma cena, de uma sessão, 

são orientações que o TOP deve estabelecer junto ao seu bottom para evitar um 

desgaste desnecessário. Converse. Não há nada mais bonito em nenhum tipo de 

relação que falar e ouvir. Explicar, doutrinar. Construir.


No meu ponto de vista, essa caminhada é sempre permeada de muitos desacertos, 

porque somos individuais, nossas leituras nem sempre são as mesmas do parceiro. E 

dentro do BDSM, em virtude da tempestade de sensações que vem junto com essa 

relação, muitas vezes é difícil fazer o bottom perceber os nossos anseios. Temos a 

prerrogativa de ordenar, de forçar, sim, temos. Mas torno a dizer que dominar é muito 

mais que isso. Dominar é se fazer necessário, é conseguir o que ninguém consegue, é 

dobrar o que ninguém dobra. Um bottom que conhece o seu TOP, porque construiu 

essa relação, porque caminhou junto nessa estrada, é um bottom que se entrega 

porque confia, porque conhece. O bottom errou? CONSERTE. Por mais desagradável 

que possa parecer dizer isso, nobres TOPs, o bottom que erra por desconhecimento é 

responsabilidade sua! Punir é válido, mas dentro da atmosfera do fetiche. Fora dela, é 

árdua a tarefa de ensinar e isso não se resolve com meia dúzia de chicotadas. É preciso 

caminhar junto o tempo todo, até, muitas vezes, quando acaba. Aquela pessoa que 

você fez, que você moldou, que você transformou, é responsabilidade sua também. 

Caminhe mais um pouco, e mais um tanto, até que ela possa caminhar sozinha.


De fato, existem muitos, infinitos aspectos da responsabilidade emocional do TOP com 

o bottom, e não foi pretensão minha escrever sobre todas elas. Tampouco fazer desse 

artigo um guia de “como ser um TOP responsável”. Aqui estão as minhas vivências, 

minhas lembranças, as doces e as mais amargas porque TOP também erra. Essa, talvez 

seja a maior responsabilidade de todas, a de se mostrar verdadeiro e falho, e admitir, e 

recomeçar.

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